De Augusto Nunes, do Jornal do Brasil

A versão foragida do presidente

General da banda eleitoreira do Planalto, o gaúcho Tarso Genro tem procurado edulcorar a versão foragida de Lula com um mantra sem pé nem cabeça: “O candidato não participa de debates para preservar a instituição da Presidência”, repete o ministro.
A fantasia é recitada com o apoio vocal do Coral dos Companheiros e, claro, sob o sorriso beatífico do improvisador que desaprendeu a improvisar em estúdios de TV. E passou a ver o mundo pelo avesso, avisam declarações de 1998.
Era outro o Lula dos palanques de oito anos atrás. Ao saber que Fernando Henrique Cardoso não participaria dos torneios retóricos, por exemplo, o Grande Pastor do PT pendurou-se na lamentação tediosa como uma incelença.
“Presidente que foge de debate mostra que prefere ficar escondido atrás de publicidade paga com o dinheiro do povo, em vez de ir para o ringue lutar em igualdade de condições”, lamuriava. Oito anos depois, o Lula reciclado esqueceu o que disse. Faz sentido.
Entrevistado pelo Jornal Nacional, o candidato à reeleição parecia um meliante aprendiz submetido ao detector de mentiras na polícia de Los Angeles. Sudorese, tremor nas mãos, pés agitados de baterista, palavras trocadas, pele pálida – foi feia a coisa.
Seria arriscado reprisar tal performance durante um debate. Porque o Lula modelo 2006 mente como quem respira, mas raramente desanda se cercado apenas de companheiros. É compreensível que prefira o horário eleitoral.
Na apresentação de estréia, o candidato subiu à estratosfera com a placidez de quem pilota uma charrete. Construiu 19 aeroportos, uma plataforma petrolífera (gigante), 108 embarcações, quatro presídios de segurança máxima. Onde, ninguém sabe.
Também pavimentou milhares de quilômetros de estradas que ninguém viu. Instalou meia dúzia de hidrelétricas cujo endereço é ignorado. E semeou incontáveis trilhos de metrô no subsolo de Salvador, Fortaleza e Recife.
Incansável, Lula fotografou até o inexistente: enquanto se gabava da paternidade da refinaria de Pernambuco, exibia imagens de uma obra similar não identificada. O acreano Sibá Machado, líder do governo no Senado, gostou da mágica.
“Foi como se tivesse visto uma maquete”, alegrou-se o companheiro. “Fiquei sabendo como vai ser”. O presidente americano Richard Nixon perdeu o cargo por ter mentido, pecado que quase custou a destituição de Bill Clinton. Um dia a gente aprende..

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