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Mostrando postagens de outubro, 2018

Editorial do Estadão - 29/10

Salto no escuro O Estado de S.Paulo Se há um ano alguém dissesse que Jair Bolsonaro tinha alguma chance de se eleger presidente da República, provavelmente seria ridicularizado. Até pouco tempo atrás, o ex-capitão do Exército era apenas um candidato folclórico, desses que de tempos em tempos aparecem para causar constrangimentos nas campanhas – papel cumprido mais recentemente pelo palhaço Tiririca, aquele que se elegeu dizendo que “pior do que está não fica”. Pois a “tiriricarização” da política atingiu seu ápice, com a escolha de um presidente da República que muitos de seus próprios eleitores consideram completamente despreparado para chefiar o governo e o Estado. A explicação mais óbvia para tal fenômeno é que os eleitores escolheram Bolsonaro porque este se apresentou como a antítese raivosa do lulopetismo. A ânsia de repudiar tudo o que o PT e Lula da Silva representam superou qualquer outra consideração de caráter político. A julgar pelas manifestações públicas de eleitores de

Fernando Gabeira, sempre equilibrado. Belíssimo artigo.

Uma virada à direita - FERNANDO GABEIRA O GLOBO - 29/10 Ganhar a eleição é difícil; derrotar forças poderosas, mais ainda. Mas dificuldades começam mesmo quando se chega ao governo A roda rodou. Já vi muitos presidentes, subindo e descendo a rampa. Um deles descendo ao fundo da terra, Tancredo. Collor chegando e saindo de nariz erguido. Lula com tantas promessas. Itamar, encontrei antes da posse, no Hotel Sheraton. Ele ainda não era o presidente, e eu tentava convencê-lo de que seria. Conheci Itamar desde a Rua Halfeld, a mesma onde Bolsonaro tomou a facada. Era um homem decente, tomava religiosamente uma sopinha ao entardecer. Ousou assinar o Plano Real. Agora, sobe Jair Bolsonaro. Não foi uma rodada simples, dessas em que PT e PSDB se revezam. Foi mais ampla, como foi a de 64, só que agora sem Guerra Fria, num contexto democrático. Senti a ascensão de Jair Bolsonaro. Impossível ignorá-la correndo o Brasil, observando as redes sociais. Quando levou a facada em Juiz de Fora, pensei: fa

Editorial do Estadão: O ego de Lula

O ego de Lula Editorial,  O Estado de S.Paulo , 25/10/2018 Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir – a palavra adequada é essa – que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”. O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor

Luiz Felipe Pondé. Um elogio ao feminismo verdadeiro e uma crítica aos "progressistas" que não entendem o funcionamento de uma família tradicional

segunda-feira, outubro 15, 2018 As filósofas do interior - LUIZ FELIPE PONDÉ Se sua mulher mandar você pular do telhado, reze pra ele não ser muito alto FOLHA DE SP - 15/10 Conversando com umas amigas de uma importante cidade do interior paulista nos últimos dias, ouvi uma máxima que, segundo elas era repetida pelos pais. Essa máxima é a seguinte: “Se sua mulher pedir pra você pular do telhado, reze para que ele não seja alto”. O que quer dizer essa máxima filosófica? Primeiro, o óbvio, mas que, às vezes, parece não muito óbvio. A máxima exemplifica uma sabedoria muito antiga: nos casamentos que funcionam, as mulheres mandam no cotidiano, e esse cotidiano vai ao encontro do velho adagio “a mão que balança o berço é a mão que manda no mundo”. Ao contrário do que berra a turma contra o “patriarcalismo”, as mulheres bem casadas mandam. Casamentos que duram são matriarcais em grande medida porque as mulheres mandam em casa e no cotidiano. E, contra os que rezam na cartilha do

Um belíssimo artigo de Guilherme Fiuza publicado na Gazeta do Povo do último dia 12/10

sábado, outubro 13, 2018 "O fascismo fake - GUILHERME FIUZA GAZETA DO POVO - PR - 12/10 Roger Waters foi vaiado em São Paulo ao acusar Bolsonaro de fascismo. Houve aplausos também. No show seguinte, o cantor inglês substituiu a referência ao candidato no telão por uma tarja com as palavras “ponto de vista político censurado”. Roger Waters é fake news. Ninguém censurou a pantomima do ex-líder do Pink Floyd. É típico do totalitário em pele progressista o horror ao contraditório. Ele sonha com uma plateia dócil e disposta a tietar incondicionalmente a sua demagogia barata. Waters quer boiar sozinho nas águas da propaganda populista e sonha calar quem ousa apontar o seu ridículo. Nem dá para afirmar que as vaias em São Paulo sejam necessariamente de simpatizantes de Bolsonaro. Muitas vezes um hipócrita é vaiado apenas e tão-somente por sua hipocrisia. Uma parcela das vaias certamente poderia ser traduzida por algo como: “Companheiro, cadê sua indignação contra a ditadura sanguinária d

Para meditar...

Carta aberta a quem vai votar em Bolsonaro ::  ... mas não é assim assumidamente bolsonarista. Por Sérgio Vaz Se você vai votar em Jair Bolsonaro porque está absolutamente convencido de que ele é o melhor candidato, é a pessoa mais bem preparada para enfrentar todos os problemas do país, que apenas dois anos atrás estava enfiado na maior crise econômica de sua história, e ainda nem conseguiu sair dela direito, então este texto não é para você. Gostaria de falar com as pessoas que vão votar em Bolsonaro porque acham que ele é o menos ruim. Ou o melhor para derrotar o PT. Ou o melhor para dar um jeito no nosso país, que anda bagunçado demais por causa dos políticos corruptos. Os que vão votar em Bolsonaro mas não são assim propriamente, assumidamente bolsonaristas. É para essas pessoas que eu gostaria de fazer umas considerações. * Você não precisa votar nele no primeiro turno. Ele já tem votos mais do que suficientes para garantir seu lugar no segundo turno. Não há a me

Artigo de Reinaldo Azevedo na Folha de São Paulo de hoje, 05/10/18

Reinaldo Azevedo Parte da elite brasileira deserta da ciência e adere à magia Sensatos caem vítimas da suposição de que a sinceridade grosseira pode ser redentora 5.out.2018 às 2h00 A dois dias do primeiro turno das eleições, vai uma constatação vazada não sem certa melancolia. Setores da elite universitária brasileira são hoje os principais clientes das mentiras espalhadas nas redes sociais. É um assombro que assim seja. Aqueles que, em tese, dispõem dos instrumentos mais afinados para apontar o que está fora do tom se mostram os maiores entusiastas de cacofonias muitas vezes sórdidas. São, entre outros profissionais, médicos, engenheiros, dentistas, economistas, advogados —e, por óbvio, não estou aqui a cometer o erro da generalização. Também há, e espero que em maior número, os que se mostram capazes de ponderar e que ainda não renunciaram à lógica elementar em favor da falácia. Quando essas pessoas estão a fazer uma incisão num abdômen, a calcular os materiais de uma ponte, a trat
A vitória do não ::  Os eleitores votam pelo não. Até os dois líderes vão às urnas pela não-democracia.  Por Mary Zaidan Seja qual for o resultado das urnas no próximo domingo, 2018 se consolida cada vez mais como a eleição do não. Ao contrário da lógica do voto na melhor alternativa, vencerá a disputa presidencial aquele que for menos rejeitado, que conseguir angariar um número menor de nãos. E mesmo que os fanáticos de um lado e de outro discordem disso, exorcizar o não será a principal tarefa de um lado e de outro caso se confirmem as pesquisas que colocam Jair Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo turno. O não impera absoluto. Nos proselitismos e nas baixarias reincidentes nas redes sociais, nas hashtags #elenão para Bolsonaro – que ganhou adeptos em todos os cantos, ultrapassando as fronteiras do país -, e #elesnão para ambos. Nos anúncios eleitorais no rádio e na TV, no discurso dos candidatos. O sucesso do não veio se desenhando há pelo menos dois anos, quando

Cronologia de um desastre

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Guilherme Bahia Mises Brasil Uma nova constituinte e assembléias populares: assim começou a revolução bolivariana E a tragédia nunca mais foi estancada Uma  catástrofe humanitária  está acontecendo logo ali no nosso vizinho do norte. Um país inteiro está ficando  sem ter o que comer . A violência é  tão grande  que faz o Brasil  parecer um lugar tranquilo . Os emigrados já  passam de dois milhões . A ínfima parcela que  foi para Roraima  nos dá a dimensão do desastre. Não foi, porém, um desastre natural, como pode parecer a um desavisado que leia os jornais brasileiros. Foi um desastre produzido por mãos humanas, com muito afinco. Expropriações e tabelamentos Por anos a fio, o governo venezuelano  impediu  as pessoas de alocarem seus recursos como lhes parecesse melhor. Por anos a fio, ele usou e abusou do  controle de preços  e do  confisco . Por anos a fio, ele transmitiu a seguinte mensagem a qualquer um que quisesse investir na Venezuela: tudo o que é seu só

O samba dos crioulos doidos

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O samba dos crioulos doidos Por Carlos Brickmann -3 de outubro de 2018 (*) Carlos Brickmann Pouco mais de 55 anos de jornalismo me mostraram o mundo como ele é: já vi cachorro matando elefante, delegado dando ordem de prisão a boi no pasto, passarinho ciscando na boca do jacaré, carro novo mais barato que o velho da mesma marca e categoria, bilionário com nome e capacete de viking passando uma temporada na cadeia. E, se não vi o título mundial do Palmeiras, não foi por desleixo: é dificílimo enxergar o que não existe. Mas nunca imaginei ver a Folha de S. Paulo e o Grupo Globo acusados de comunistas – Octávio Frias e Roberto Marinho jamais pensariam em integrar o grupo de comunistas formado também por O Estado de S. Paulo – alguém terá imaginado o dr. Júlio de Mesquita Filho, sempre impecavelmente vestido, conspirando com desleixados bolcheviques petistas? – e notáveis como Fernando Henrique, José Serra, Mário Covas, ao lado de banqueiros da mais seleta estirpe, Cândido Bra

Estão acabando com o direito

OPINIÃO O grave erro da cassação feita por Fux da decisão de Lewandowski 29 de setembro de 2018, 11h08 Por Lenio Luiz Streck Andava eu pela Itália e, no meio de uma conferência sobre hermenêutica, uma professora me interrompe e diz: “Está bem, professor. Nós dois vemos um barco e cada um vê um barco diferente. Logo, onde está a resposta correta?”. Respondi-lhe, candidamente: “Professora, aleluia. Perfeito. É um barco. Estamos juntos. Não é um avião. Então, agora, podemos começar a ver o tamanho do barco”. Conto isso para falar do que venho dizendo há 20 anos ou mais: interpretar têm limites. Capitu traiu ou não Bentinho? Vamos discutir. Mas Capitu era uma mulher. Nenhuma interpretação comporta a tese “Capitu era homem”. Pois a decisão do ministro Luiz Fux cassando a decisão do ministro Lewandowski é similar ao que Eco chama de superinterpretação. Na metáfora ou alegoria do barco, Fux disse que não era um barco e, sim, um avião. Vamos lá. A história quase todos já conhecem: houve a dec