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Mostrando postagens de março, 2021

Editorial do Estadão, 31/03/2021

  Entre golpistas e velhacos Nenhuma das trocas ministeriais visa a melhorar a administração. Prestaram-se somente a aplacar as neuroses do presidente e a saciar os apetites da família Bolsonaro, além da voracidade do Centrão Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 31 de março de 2021 | 03h00 A anunciada substituição dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foi o desdobramento natural da resistência da cúpula das Forças Armadas à pretensão do presidente Jair Bolsonaro de aliciá-la para propósitos autoritários. O comando militar vem agindo patrioticamente e em respeito à Constituição, que confere às Forças Armadas o papel de instituição de Estado, e não de governo, a despeito das inúmeras tentativas de Bolsonaro de transformá-las em guarda pretoriana. Seria inaceitável humilhação, para a corporação militar, submeter-se aos caprichos desvairados de um ocupante temporário da Presidência. Já basta o papel vergonhoso desempenhado no Ministério da Saúde pelo general da a

Artigo de Marcos Lisboa na FSP, 27/03/2021

  Lentamente, nossa casa vai sendo tomada O Orçamento deste ano parece obra do realismo fantástico 27.mar.2021 às 23h15 Em “Casa Tomada”, Julio Cortázar escreve sobre um casal de irmãos que percebe sua imensa moradia sendo lentamente invadida. Os estranhos, jamais visíveis, mas sabidos pelos seus sons, aos poucos vão ocupando os cômodos enquanto o narrador e sua irmã se refugiam nos espaços que conseguem preservar. Mal saído da adolescência, li o conto em uma sala de espera. Ao meu lado, um senhor, que descobri ser argentino, dirigiu-se a mim e disse: essa é história do peronismo no meu país. O realismo fantástico, que se tornaria algo cansativo nos anos seguintes, decorreu do encantamento com a literatura que privilegiava as ideias em vez das personagens e seus dilemas. Havia, por exemplo, a influência de Edgar Allan Poe e seus contos mirabolantes, como “A Queda da Casa de Usher”, em que a leitura atenta revela as causas sutis do que parecia sobrenatural. Borges talvez tenha sido o me

Editorial do Estadão, 27/03/2021

  Uma grande vitória da ciência A aposta na ciência quase sempre dá resultado, às vezes mais rápido do que se espera, como foi o caso das vacinas contra a covid-19 Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 27 de março de 2021 | 03h00 O Instituto Butantan anunciou na sexta-feira que desenvolveu uma vacina 100% nacional contra a covid-19. O imunizante passará por fase de testes e, se tudo correr bem, poderá estar disponível já em julho. Embora o desenvolvimento da vacina ainda não esteja completo, a simples notícia de que o Brasil está às portas de conseguir um imunizante fabricado no País, que não depende de insumos e tecnologia estrangeiros e, portanto, será mais barato e mais fácil de produzir, é uma imensa vitória da ciência nacional. Em tempos tão sombrios, em que a ciência é tratada como inimiga pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus fanáticos seguidores, a informação de que os cientistas brasileiros do Butantan foram capazes de desenvolver uma vacina para enfrenta

Artigo de Reinaldo Azevedo, FSP, 26/03/2021

  A democracia fica mais segura com Bolsonaro sob ameaça Com uniforme, seria inútil à guerra porque lhe falta raciocínio lógico; com o terno, não serve à paz Jair Bolsonaro só entende a linguagem da ameaça, seja como agente, seja como alvo. E, nesse particularíssimo sentido, agiu bem Arthur Lira, presidente da Câmara. O “mau militar” (segundo Ernesto Geisel) está, como chefe do Executivo, abaixo da crítica: não fosse o morticínio em massa, ele não valeria nem uma boa lista de insultos. Com uniforme, seria inútil à guerra porque lhe falta raciocínio lógico, e todo tiro sairia pela culatra. Com o terno, não serve à paz. Está talhado para a arruaça e a briga de gangues. Não por acaso, o Exército o chutou. Ocorre que a política o capturou, e a Lava Jato o elegeu presidente . “Ah, foi o povo...” Eu sei. Segundo circunstâncias que não eram de sua escolha. Até a semana passada, Bolsonaro buscava nos intimidar com um autogolpe . Lembro à margem: tinha parado com a tara “putchista” depois da p

Artigo de Demétrio Magnoli, FSP, 19/03/2021

O paradoxo do centro Siglas têm nas mãos fracassos gravados na memória coletiva, mas não têm narrativa Lula versus Bolsonaro . As sondagens indicam um segundo turno moldado pela mesma polarização política de 2018. Mas isso, como sabe qualquer especialista em pesquisas, é o som do passado —e eleições são sobre o futuro. Tanto o ex como o atual presidente comandam minorias consolidadas , potencialmente capazes de impulsioná-los ao turno derradeiro, mas não de garantir-lhes o triunfo diante de uma terceira opção. A paisagem é mais ampla que o cenário numérico: objetivamente, o chamado "centro" tem uma oportunidade singular de bater um e outro em 2022. Em tese, a missão exige apenas uma campanha eficaz de esclarecimento político. Não se trata de apontar, no plano ideológico, as simetrias verdadeiras e falsas (pois existem as duas) entre as candidaturas polares. Eleições só são sobre ideologia para a minoria que se imagina politizada. Trata-se de identificar e descrever dois fraca

Jair Messias e o 'pai dos psicopatas'. Guido Palomba, FSP, 17/03/2021

Jair Messias e o 'pai dos psicopatas' Psiquiatra alemão escrutinou as características de personalidades anormais 17.mar.2021 às 23h15 Guido Palomba Psiquiatra forense, é membro emérito e ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo “Personalidades Psicopáticas” é o título no Brasil do livro “Die Psychopathischen Persönlichkeiten”, de Kurt Schneider , psiquiatra alemão. A obra rendeu-lhe reconhecimento e a alcunha de “pai dos psicopatas”. É ótima fonte para decifrar distúrbios de personalidade em tempos tensos, como os desta pandemia. Suas descrições tipológicas baseiam o diagnóstico de desvios de comportamento social, resultados da ausência de sentimentos de piedade, compaixão e altruísmo; da falta de valores éticos-morais; e da incapacidade de se reconhecer culpado. São indivíduos sem remorso e arrependimento. Schneider destaca características de personalidades anormais . Carentes de compaixão, toscos em regra, anestesiados de senso moral. Frente ao sofrimento alheio, à

Reinaldo Azevedo, FSP, 18/03/2021 - Texto sobre o Min André Mendonça e o pequi roído

Trabalho de Mendonça - o da nota filoterrorista - não vale um pequi cozido Reinaldo Azevedo 18/03/2021 04h40 O despudor do ministro André Mendonça, da Justiça, tinha apenas um concorrente à altura na Esplanada dos Ministérios: o do agora ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. E olhem que a competição segue acirrada. Numa plêiade de varões de Plutarco em que brilham Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, é preciso ser muito ruim para conseguir um papel de destaque. O doutor se comporta como um bedel de consciências a serviço do chefe. E espera, como paga, uma vaga no Supremo. É forte concorrente. Afinal, é terrivelmente evangélico — um quesito que pode definir a escolha, segundo afirmou certa feita o próprio presidente — e serve aos desígnios do chefe sem sentir nenhuma vergonha, não importa quão abjetos sejam os instrumentos a que recorre para intimidar críticos e opositores do governo. Mendonça pediu que a PF abrisse de ofício um inquérito — compe

A radiografia de um crápula - Poder 360, 15/03/2021

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  Se você fizer lockdown no NE vai me foder e perco a eleição, diz Bolsonaro Declaração foi para Ludhmila Hajjar Presidente insistiu sobre cloroquina Médica e Bolsonaro: sem acerto A médica cardiologista Ludhmila Hajjar, durante gravação do programa Poder em Foco, em abril de 2020 Sérgio Lima/Poder360 - 7.abr.2020 PODER360 15.mar.2021 (segunda-feira) - 16h32 A indicação da médica cardiologista  Ludhmila Hajjar  para assumir o Ministério da Saúde não decolou. O presidente Jair Bolsonaro recebeu a cardiologista do  Incor  e dos hospitais Star, da  Rede D’Or , no domingo (14.mar.2021) e na manhã desta 2ª feira (15.mar). As conversas não fluíram bem para nenhum dos lados. Participaram da reunião de domingo, no Palácio da Alvorada, o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o deputado  Eduardo Bolsonaro  (PSL-SP). As presenças de Pazuello e do filho do presidente foram uma supresa para a médica. Ludhmila Hajjar veio a Brasília com o apoio –público ou reservado– de nomes como o do presi

Editorial do Estadão, 14/03/2021

  Nem o diabo Confrontado pela realidade trágica da pandemia, Bolsonaro tenta explorar as mortes como ativos eleitorais, colocando-as na conta de seus adversários Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 14 de março de 2021 | 03h00 Nas inolvidáveis palavras de Dilma Rousseff, então presidente da República, “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. A máquina lulopetista de destruição de reputações era mesmo diabólica. Com razão, os eleitores demonstraram o desejo de dar um basta em tanta desfaçatez e passaram a castigar o PT nas urnas. O recado foi claro: em política, mesmo que alguns considerem válido “fazer o diabo”, não se pode fazer coisas que nem o diabo faria. O presidente Jair Bolsonaro, contudo, parece disposto a cruzar todos os elásticos limites da pugna política. Em recente manifestação pública, leu uma carta de um suposto suicida, cuja morte o presidente atribuiu às medidas de restrição adotadas por governadores para conter a pandemia de covid-19. A exploração de

Editorial do Estadão, 12/03/2021

  Acredite quem quiser Bolsonaro, que passou toda a pandemia a maldizer vacinas e máscaras, quer ser reconhecido como campeão da imunização Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 12 de março de 2021 | 03h00 O ex-presidente Lula da Silva, que fez da polarização do “nós” contra “eles” a força motriz de sua seita, agora se apresenta disposto ao “diálogo”. O presidente Jair Bolsonaro, que passou toda a pandemia de covid-19 a maldizer vacinas e máscaras, quer ser reconhecido como campeão da imunização dos brasileiros. Formidáveis metamorfoses, nas quais acredita quem quer. Que ninguém se engane: a única motivação de ambos, como sempre foi, é eleitoral. Nenhum deles sequer acorda pela manhã se não for por cálculo político. Os interesses nacionais e as aflições dos eleitores são sempre secundários, ou meramente instrumentais, em seus projetos de poder. O presidente Bolsonaro, de uma hora para outra, protagonizou uma solenidade oficial usando máscara, bem como seus assessores. A imagem e

Editorial do Estadão, 11/03/2021

  A necessária alternativa para o caos Para enfrentar Lula e Bolsonaro, as lideranças precisam se organizar para construir, já, uma candidatura capaz de sensibilizar o eleitorado Notas&Informações, O Estado de S.Paulo 11 de março de 2021 | 03h00 Lula da Silva e Jair Bolsonaro nunca desceram do palanque. O petista, nem quando esteve preso; o presidente, nem diante de uma pilha de mortos. Logo, os dois saem em considerável vantagem na disputa eleitoral de 2022, cuja campanha, totalmente fora de hora, começou no exato instante em que saiu o resultado da eleição de 2018. Para enfrentá-los – e evitar que o País tenha que encarar no mínimo mais quatro anos de pesadelo –, as lideranças políticas, sociais e empresariais interessadas na democracia precisam urgentemente se organizar para construir, já, uma candidatura capaz de sensibilizar o eleitorado, em especial a parte – seguramente majoritária – que está farta da briga de rua em que se transformou a política brasileira nos últimos tempo

Editorial do Estadão, 10/03/2021

  A ficha moral de Lula é suja Seu retorno à ribalta eleitoral atira o País num turbilhão de incertezas, em meio a uma pandemia e ao desgoverno de Bolsonaro Notas&Informações, O Estado de S.Paulo 10 de março de 2021 | 03h00 A defesa do ex-presidente Lula da Silva tanto fez que conseguiu: depois de anos a invocar questões processuais para questionar as condenações de seu cliente por corrupção, finalmente foi premiada com uma decisão judicial que, na prática, livra o demiurgo de Garanhuns de prestar contas à Justiça e, ademais, lhe restitui os direitos políticos. Desse modo, o sr. Lula da Silva pode até subir nos palanques dos grotões miseráveis onde ainda é rei para pedir votos e, eventualmente, voltar ao poder, mas ainda assim, para todos os efeitos – morais e políticos –, terá seu nome indelevelmente vinculado a múltiplos escândalos de corrupção, marca que nenhuma chicana será capaz de apagar. Lula foi até agora incapaz de explicar não apenas os mimos generosos que recebeu de empr

Reinaldo de Azevedo, Folha de São Paulo, 09/03/2021

O que desmoraliza a Justiça é a falcatrua, não a correção do despropósito Reinaldo Azevedo Colunista do UOL 09/03/2021 03h49 Recebi mensagem de uma pessoa conhecida com a seguinte consideração: "Essa decisão de Edson Fachin só serve para desmoralizar a Justiça porque as pessoas se perguntam o óbvio: por que só agora?" É claro que há algumas explicações — ou uma principal — para que seja só agora. Escreverei a respeito. Mas quero corrigir o amigo que enviou o texto, cujo nome não direi. Não é a decisão de agora que desmoraliza a Justiça. Esta, ainda que por caminhos tortos, tem ação corretiva. Nesse caso, o que desmoralizava a Justiça era tudo aquilo que veio antes. Como cansei de demonstrar ao longo do tempo — meu texto evidenciando que o próprio Sergio Moro reconhecia não ser ele o juiz vai fazer quatro anos daqui a dez dias —, havia uma usurpação de competência absurda nesse caso. A Vaza Jato já revelou — e creio que dados novos serão evidenciados com o conteúdo da Operaçã

Editorial do Estadão, 09/03/2021

  A macabra proeza de Bolsonaro Bolsonaro está conseguindo fazer o que parecia impossível. Ao ignorar suas responsabilidades, está abrindo caminho para o retorno político de Lula Notas&Informações, O Estado de S.Paulo 09 de março de 2021 | 03h00 Jair Bolsonaro está conseguindo fazer o que parecia impossível. Ao ignorar suas responsabilidades e debochar continuamente dos problemas do País e da saúde dos brasileiros, está abrindo caminho para o retorno político do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, seja por meio de algum preposto, seja pessoalmente, agora que o ministro Edson Fachin anulou todas as condenações do demiurgo de Garanhuns – e na hipótese de que o Supremo mantenha essa nefasta sentença. Bolsonaro, por palavras e omissões, ajudou a recriar o monstrengo que já atormentou em demasia este país. O assunto é da maior gravidade, pois traz de volta ao cenário político um grande perigo para o País. Aquele que foi eleito por ser o mais antipetista dos candidatos não apenas descumpre su

Artigo de Jamil Chade no UOL, 05/03/2021

Brasil deixa de ser pária para se transformar em ameaça global Jamil Chade Colunista do UOL 05/03/2021 04h00 Nesta semana, recebi um telefonema de um casal de diplomatas que estava num país da América do Sul. A voz do outro lado da linha era de pessoas desesperadas. Precisavam voltar para seu posto na Europa e, horas antes do voo, a companhia aérea deu aos passageiros uma péssima notícia: o avião teria de fazer escala no Brasil. O medo de uma contaminação os levou a duvidar se deveriam embarcar, enquanto consultas legais eram realizadas com as entidades onde trabalhavam para saber se passar pelo Brasil representaria um risco. Há poucos dias, levei meu filho caçula ao dentista e, ao ver que era eu quem o acompanhava, o profissional imediatamente deu um passo para trás e perguntou: você não esteve recentemente no Brasil, não é? Nesta sexta-feira, ao entrar na sede da ONU em Genebra, fui parado pelo correspondente do New York Times assombrado com o que leu sobre a reação do presidente Jai