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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

Editorial do Estadão, 21/02/2024

  A guerra de Lula Na ânsia de se autopromover como líder global dos ‘pobres’ contra os ‘ricos’, Lula reduziu o Itamaraty a linha auxiliar de sua ideologia maniqueísta e de seu voluntarismo narcisista O presidente Lula da Silva parece ter declarado guerra ao Ocidente. Uma guerra imaginária, claro, mas nesse delírio o petista pretende posicionar o Brasil na vanguarda da luta contra tudo o que simboliza os valores ocidentais – tendo como companheiros de armas um punhado de notórias ditaduras, como China, Rússia, Irã e Venezuela. A irresponsável declaração de Lula sobre Israel, comparando a campanha israelense contra os terroristas do Hamas ao Holocausto, está perfeitamente alinhada a esse empreendimento ideológico. Não foi, portanto, fortuita nem acidental. Lula parece empenhado em usar seu terceiro mandato para lançar-se como líder político do tal “Sul Global”, uma espécie de aggiornamento do “Terceiro Mundo” dos tempos da guerra fria. Nessa nova ordem, as características distintivas do

Editorial do Estadão, 20/02/2024

Vandalismo diplomático Ao dizer que guerra de Israel contra os terroristas do Hamas equivale ao Holocausto, Lula avilta a História, a memória dos judeus assassinados pelos nazistas e os interesses do Brasil O presidente Lula da Silva não precisou de mais do que um punhado de frases carregadas de ranço ideológico e antissemitismo para fazer do último domingo um dia infame na história da diplomacia brasileira. Ao dizer que a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas se assemelha ao Holocausto, Lula, a um só tempo, vandalizou a História, a memória das vítimas da indústria da morte nazista e os interesses do Brasil. Nem os mais ferozes inimigos de Israel ousaram ir tão longe nas críticas à campanha militar conduzida pelos israelenses na Faixa de Gaza – uma campanha que decerto inclui atos que podem ser classificados como crimes de guerra, mas que nada tem a ver, nem sob licença poética, com o assassinato sistemático dos judeus europeus na 2.ª Guerra. Durante uma entrevista coletiva n

Editorial do Estadão, 17/02/2024

A democracia de olho roxo Caso da agressão a Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, que ensejou medidas excepcionais por parte do Supremo por ser vista como ameaça à democracia, é encerrado sem indiciamentos Terminou não com um estrondo, mas com um gemido, o inquérito que apurou as hostilidades que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes alegou ter sofrido em julho do ano passado, junto com sua família, no aeroporto de Roma. Como se sabe, a investigação policial acabou sem indiciamentos, por se tratar de crime de menor potencial ofensivo – algo que era evidente desde o momento em que o caso veio à tona. No entanto, nos tempos estranhos que o País vive, uma simples altercação seguida de empurrões e tapas tornou-se objeto de histérica reação de autoridades do Supremo e do governo, como se a agressão ao sr. Moraes e a seus familiares fizesse parte do complô bolsonarista contra a democracia. Nada menos. Ao longo de meses, a título de salvaguardar o regime democr

Terceiro Editorial do Estadão, 11/02/2024

A imagem do antissemitismo Agressão a lojista judia na Bahia expõe cinismo do governo no combate ao antissemitismo O governo que prometeu respeito à diversidade e que faz do combate ao racismo uma de suas principais bandeiras levou nada menos que dois dias para se manifestar a respeito de um ataque de antissemitismo explícito ocorrido na Bahia, devidamente registrado em um vídeo que chocou o País. É o caso de perguntar o que fez esse governo progressista esperar longas 48 horas para finalmente condenar aquele ato de ódio explícito movido por preconceito contra judeus. É legítimo perguntar por que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que não existe para outra finalidade, hesitou tanto para fazer o trabalho para o qual recebe recursos recolhidos de todos os cidadãos – inclusive judeus. Quando finalmente decidiu tocar no assunto, dada a enorme repercussão do caso, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, condenou o antissemitismo, mas conseguiu a proeza de juntar na m

Segundo editorial do Estadão, 09/02/2024

  Notória ignorância ética Como se não coubesse num só Poder, Dino trafega ruidosamente pelos três, deixando claro seu afã de satisfazer o ‘sonho antigo’ de Lula de ter um ministro do STF com ‘cabeça política’ Ninguém ignora que o presidente Lula da Silva não indicou ao Supremo Tribunal Federal (STF) seu amigo, correligionário, ex-ministro da Justiça e senador Flávio Dino (PSB-MA) por seu relativamente desconhecido saber jurídico, e sim por seu notório saber político. Com uma base diminuta no Congresso, Lula não disfarçou seu desejo de consolidar a Corte como fiadora do Executivo e plenário de “terceiro turno” do Legislativo, confessando seu “sonho antigo” de instalar nela alguém com “cabeça política”. Uma vez referendado pelo Senado, o decoro exigia de Dino que se recolhesse para engavetar o figurino político e confeccionar o figurino judiciário. Ao invés disso, ele decidiu aferrar-se até o último minuto à caneta de ministro da Justiça. Mal passou o bastão ao sucessor, o ex-ministro d

Editorial do Estadão, 09/02/2024

  O tempo da prudência No momento em que operação da PF contra Bolsonaro eletriza o País, exige-se que tudo seja feito em absoluto respeito à lei. Só se combatem os inimigos da democracia com mais democracia A história costuma ter dias e momentos determinantes, e o 8 de fevereiro de 2024 pode se tornar um deles. A operação da Polícia Federal que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado investiu ontem contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns dos seus aliados mais próximos, com 33 mandados de busca e apreensão, 4 mandados de prisão e 48 medidas cautelares. Entre os alvos estavam os generais Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional; Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e candidato a vice na derrotada chapa de Bolsonaro à reeleição; e Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa. Entre os presos, o coronel Marcelo Costa Câmara, ajudante de ordens do então presidente; e Filipe Martins, ex-assessor internacional. O próprio Bolsonaro fo

Editorial do Estadão, 07/02/2024

  O ânimo de Toffoli A esta altura, está claro que tudo o que se interpuser entre o ministro do Supremo e sua autoatribuída missão de reescrever a história da Lava Jato será impiedosamente atropelado O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli mandou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) insista numa investigação sobre um suposto conluio entre a ONG Transparência Internacional e a Lava Jato para se apropriar de recursos recuperados de esquemas de corrupção. A ordem de Dias Toffoli se deu poucos dias depois que a ONG incluiu algumas decisões recentes do ministro – sobretudo as que favoreceram empresas envolvidas em escândalos na era petista – na lista dos fatores que ajudaram a piorar a posição do Brasil no Índice de Percepção da Corrupção. Não se conhecem os motivos do ministro Toffoli, que de resto parece profundamente empenhado em reescrever a história de corrupção e desmandos que marcaram a trevosa passagem do PT pelo poder. Fica claro, no entanto, que o ministro

Editorial do Estadão, 03/02/2024

  O STF insulta os brasileiros O Supremo parece se esforçar para convencer os cidadãos de que o monumental esquema de corrupção envolvendo empreiteiras nos governos do PT não passou de um delírio de todo um país No que depender do Supremo Tribunal Federal (STF), em particular do ministro Dias Toffoli, falta muito pouco para que milhões de brasileiros passem a acreditar que, talvez, no auge da Operação Lava Jato, tenham vivido uma espécie de surto coletivo. Tudo o que viram, leram e ouviram a respeito do monumental esquema de corrupção envolvendo as maiores empreiteiras do País durante os governos do PT, a despeito das inúmeras provas fornecidas pelos próprios acusados, aceitas como perfeitamente válidas em todas as instâncias judiciais ao longo de anos, simplesmente não aconteceu – e, pior, que as empresas envolvidas foram vítimas de uma sórdida conspiração da Lava Jato. Em setembro do ano passado, o ministro Dias Toffoli decidiu liminarmente anular todas as provas que consubstanciaram