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Mostrando postagens de outubro, 2020

Editorial do Estadão, 30/10/2020

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  O Estado de S.Paulo   Numa democracia saudável, a luta pelo poder, por mais acirrada que seja, não pode servir de pretexto para que se violentem os padrões básicos de comportamento civilizado. Em outras palavras, todos, candidatos e eleitores, devem respeitar esses limites ditados pela decência – que, ao fim e ao cabo, é requisito fundamental para o reconhecimento mútuo da legitimidade dos que disputam o poder.   Há algum tempo, contudo, a democracia brasileira vem sendo rebaixada por alguns a uma briga de rua, em que vence aquele que desafia os paradigmas morais que, sempre se acreditou, viabilizam a vida em sociedade. A briga de rua premia os que tratam o oponente de forma desumana, sem qualquer freio ditado pelos princípios éticos; já os que nutrem respeito pelo adversário, no mínimo por honradez, são tratados como fracos.   Quando Celso Russomanno, candidato à Prefeitura de São Paulo, sugere que seu principal adversário na disputa, o prefeito Bruno Covas, pode não terminar o mand

Editorial do Estadão, 19/10/2020

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 A politização da vacina Não é tarde para que o governo federal coordene a compra e a distribuição das vacinas que mais rapidamente obtiverem registro na Anvisa. Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 19 de outubro de 2020 | 03h00 Causou justa perplexidade entre os secretários estaduais de Saúde a ausência da vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac – a chamada Coronavac – do cronograma do Programa Nacional de Imunizações (PNI) apresentado recentemente pelo Ministério da Saúde. O fato deve indignar também qualquer cidadão de boa-fé neste país, pois se trata, evidentemente, de mais um reflexo da inaceitável politização da saúde pública que tem sido a tônica da atuação do presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia. A vacina contra a covid-19, seja ela qual for, venha de onde vier, é a última esperança para milhões de brasileiros aflitos com os terríveis números da doença no País: mais de 5 milhões de caso

Editorial do Estadão, 16/10/2020

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 Aparelhamento bolsonarista Líderes de fancaria não pretendem governar, mas tomar posse do Estado. Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 16 de outubro de 2020 | 03h00 A TV Brasil já nasceu, em 2007, com o mal congênito da impostura. Tratada no berço como uma emissora destinada a atender “à antiga aspiração da sociedade brasileira por uma televisão pública nacional, independente e democrática”, rapidamente ganhou o apelido de “TV do Lula”, em alusão ao fato óbvio de que a emissora estatal nada tinha de pública. Ao contrário, prestava-se, em parte da programação, a fazer a promoção descarada do governo lulopetista, sobretudo em tempos de campanha eleitoral, especialidade do demiurgo de Garanhuns. A emissora agigantou-se em funcionários e estrutura mesmo dando apenas traço de audiência – o que já seria argumento suficiente para fechá-la sem pestanejar, se houvesse respeito pelos contribuintes. Prestou-se ademais a empregar apaniguados petistas de várias extrações, que ali garantiam

Editorial do Estadão, 15/10/2020

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 Ignorância como ativo eleitoral Na ânsia de criticar as medidas de combate à pandemia, bolsonaristas escancaram seu darwinismo social, o que deveria custar votos Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 15 de outubro de 2020 | 03h00 Não é somente a corrupção que degrada a política, como querem fazer crer os oportunistas que se travestiram de cruzados anticorrupção para alcançar o poder nas eleições passadas. A política também perde o sentido quando a ignorância é elevada à categoria de ativo eleitoral. Tome-se como exemplo a declaração de Celso Russomanno, candidato à Prefeitura de São Paulo, segundo a qual “não temos uma quantidade imensa de moradores de rua com problema de covid” porque “talvez eles sejam mais resistentes que a gente porque convivem o tempo todo nas ruas, não têm como tomar banho todos os dias, et cetera e tal”. Seria um erro tratar essa declaração grotesca como simples anedota de campanha eleitoral, como tantas que períodos estranhos como esse costumam produzir

Agro é pop, agro é tudo?

 A salvação da lavoura não é a lavoura Acreditar que o Brasil possa crescer puxado pelo agronegócio é apenas uma ingênua quimera Luís Eduardo Assis*, O Estado de S.Paulo 12 de outubro de 2020 | 04h00 Não se pode minimizar a importância histórica da agricultura nas grandes conquistas da civilização. Nathan Nunn e Nancy Qian publicaram em 2009 um saboroso texto (The Potato’s Contribution to Populatin Growth and Urbanization) em que demonstram por meio de modelos econométricos que nada menos que 22% do aumento da população mundial entre 1700 e 1900, quando passamos de 603 milhões para 1,6 bilhão de habitantes, se deveu à introdução do cultivo da batata na Europa. A melhoria na quantidade e na qualidade do consumo calórico foi fundamental para a maior expectativa de vida. Aqui, entre nós, há ainda quem pense, como os fisiocratas do século 18, que a agricultura é nosso passado e nosso futuro. Agro é tech, agro é pop, agro é tudo, diz o slogan da campanha publicitária. Será, mesmo? Pelas est

FICA PARA DEPOIS - Editorial do Estadão, 12/10/2020

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  Fica para depois Os seguidos adiamentos de decisões pelo governo seguem a lógica de uma administração que tem um único rumo: o da satisfação das condições para a reeleição do presidente Bolsonaro Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 12 de outubro de 2020 | 03h00 É impressionante a capacidade do governo de Jair Bolsonaro de procrastinar decisões, das banais às mais urgentes. Nem se pode dizer que isso acontece porque o governo não tem rumo; ao contrário, os seguidos adiamentos seguem a lógica de uma administração que tem um único rumo: o da satisfação das condições para a reeleição do presidente Bolsonaro. Bolsonaro foi eleito com a promessa solene de revolucionar o Estado brasileiro, promovendo toda sorte de reformas e de planos de reorganização. O objetivo, segundo garantiu na campanha, era entregar ao País um Estado que estivesse a serviço dos contribuintes, e não se servindo destes. Era evidente, para quem tivesse um mínimo de informação, que Bolsonaro não tinha como entre