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Mostrando postagens de julho, 2021

Artigo de José Roberto Batochio no Estadão, 27/07/2021

  Borba Gato e a construção do Brasil Os bandeirantes escravizaram, sim, mas não só por isso devem ser julgados José Roberto Batochio, O Estado de S.Paulo 27 de julho de 2021 | 03h00 “Somos obrigados a conquistar por polegadas a terra que Vossa Alteza nos fez mercê por léguas" (Carta de Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, ao rei dom João III, em 1546) A épica empreitada da colonização do Brasil inscreve-se como uma das heroicas, árduas e trágicas páginas da grande aventura humana para descobrir o que existia onde acabavam os mares, desta vez em direção às terras que os mal chamados índios já ocupavam e viriam a ser conhecidas como Novo Mundo. Homens de seu tempo, como todos os homens, trouxeram os usos e costumes dos colonizadores, que não podem ser avaliados pela perspectiva do retrovisor da História, que os julga a partir de valores mais acordes com a contemporaneidade do que com a conformação social da antiguidade. O equívoco de revisar o passado com a escala axiológica do

Editorial do Estadão, 27/07/2021

O devaneio castrista de Lula A queda da popularidade digital de Lula da Silva, após elogio ao regime cubano, é uma boa medida do limite de tolerância à desfaçatez lulopetista Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 27 de julho de 2021 | 03h00 A popularidade digital do ex-presidente Lula da Silva caiu de 43,18 pontos para 27,48 entre os dias 12 e 14 de julho, conforme levantamento da consultoria Quaest, publicado recentemente pelo Estado. O motivo de queda tão abrupta foi a defesa que Lula da Silva fez do regime cubano, que reprimiu duramente manifestantes em Cuba no dia 12. Enquanto o mundo civilizado se chocava com a brutalidade das forças de segurança de Cuba contra cidadãos que ousaram protestar contra a falta de vacinas contra a covid-19 e contra a escassez crônica de alimentos na ilha, o chefão petista caprichou: disse que a manifestação de cubanos havia sido uma mera “passeata” e teve a audácia de negar a violência que todo mundo testemunhou. Para completar, o PT soltou um “

Artigo de Bernardo Mello Franco, O Globo, 23/07/22021

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Recibo de estelionato: Bolsonaro e o governo do centrão Por  Bernardo Mello Franco  23/07/2021 00:00 Cerimônia alusiva à liberação da ponte sobre o Rio Parnaíba, entre Piauí e Maranhão | Isac Nóbrega/PR A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil muda o desenho dos negócios em Brasília. Até aqui, o Centrão se limitava a fazer escambo: alugava apoio parlamentar e sacava sua parte em cargos e benesses. Agora o bloco vai trocar o balcão pela gerência da loja. Passará a mandar sem intermediários. O chefão do PP se reaproximou do poder em junho de 2020, quando Jair Bolsonaro começou a sentir o cheiro do impeachment. Para socorrê-lo, Nogueira exigiu o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. A autarquia cuida de temas que não costumam emocionar os políticos, como a aquisição de livros didáticos e a organização do transporte escolar. Seu segredo está no orçamento, que ultrapassa os R$ 50 bilhões anuais. Em fevereiro deste ano, Bolsonaro ajudou outro pepista, Arthur Lira, a se el

Artigo de Vera Magalhães, O Globo, 23/07/2021

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  São todos cúmplices Por  Vera Magalhães  23/07/2021 03:00 Não resta espaço para dúvida de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, mandou o recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ameaçando caso o voto impresso não fosse aprovado. Lira trucou a ameaça e, como o governo Jair Bolsonaro tem DNA golpista, mas é eminentemente composto de pessoas despreparadas e algo covardes, o presidente e seu general recolheram as ameaças, ao menos por ora, e o resultado foi que o PP e o Centrão avançaram algumas casas para tomar conta de tudo — se apossando de novo até de espaços dos militares. Foi o Centrão que tirou o general Eduardo Pazuello da Saúde. Mantendo Roberto Dias, o assessor que o general e seu sub, o coronel Elcio Franco, não conseguiram demitir. Agora é de novo um alto expoente do PP, seu presidente, Ciro Nogueira, que faz outro general pegar o quepe. Luiz Ramos, assim como Pazuello, verga a espinha e aceita ir para um ministério de menor importância. O mesmo faz Paulo

Artigo de Francisco Razzo, Gazeta do Povo, 22/07/2021

Democracia e o resto Francisco Razzo 21/07/2021 12:04 Politicamente considero a expressão “terceira via” sofrível. Se funciona retoricamente, já são outros quinhentos. Afinal, o termo “terceira via” pretende apresentar alternativas entre Bolsonaro e Lula, entre reacionários e revolucionários. Prefiro pensar em termos de duas vias: a via do populismo — seja de esquerda ou de direita — e a afirmação democrática, que significa basicamente a ousadia de se sentar à mesa e negociar com adversários sem passar pelo constrangimento de reduzi-los a inimigos mortais. Assumir uma terceira via significa creditar a Lula e Bolsonaro duas alternativas e o resto. E possível inverter essa fórmula: existe a via democrática e o resto é demagogia. Por “resto” entendo duas concepções de mundo que se retroalimentam: bolsonarismo e lulismo são faces de um mesmo imaginário político: pensamento mítico, salvadores da pátria, demagogia... Em 2014, bem antes de Bolsonaro sonhar em ser presidente da República, escr

Artigo de Denis Lerrer Rosenfield no Estadão, 19/07/2021

O corpo decaído Aquela grotesca foto foi estratégia para tentar melhorar a declinante imagem de Bolsonaro Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo 19 de julho de 2021 | 03h00 A exploração política do corpo doente e da morte é uma marca da estratégia do presidente Jair Bolsonaro. Ela é empregada tanto em sua forma de governar quanto em seu objetivo reeleitoral. Mais de 530 mil brasileiros morreram vítimas da covid-19, ou seja, da incúria governamental e do desprezo pelo outro, sem que palavras de solidariedade e de compaixão acompanhassem as famílias vitimadas. Agora, num estranho – mas nem tanto – movimento paradoxal, o mesmo presidente expõe publicamente uma foto de seu corpo doente, procurando colocar-se como vítima. Normalmente, embora se tenha tornado difícil falar de normalidade nos tempos que correm, as pessoas, na doença e na morte, se recolhem, voltam-se para os seus sentimentos e pensamentos, entre os seus. O seu comportamento caracteriza-se pela privacidade, pela união fa

Artigo de Catarina Rochamonte na FSP, 19/07/2021

  Lula, Cuba e a lição de Saramago O autocrata do PT que posa de democrata, expôs, mais uma vez, toda a sua abjeta bajulação à ditadura cubana 18.jul.2021 às 23h15 O autocrata do PT que posa de democrata expôs, mais uma vez, toda sua abjeta bajulação à ditadura cubana . No dia em que se registrava oficialmente a primeira morte decorrente da enorme onda de protestos que inundou as ruas de Cuba desde as cidades do interior até Havana, Lula iniciou uma sequência de tuítes com uma indagação torpe: "O que está havendo em Cuba de tão especial para falarem tanto?". Manifestantes foram espancados, mais de cem foram detidos, muitos estão desaparecidos, repórteres foram sequestrados, uma youtuber foi presa ao vivo enquanto dava entrevista, mas Lula, cruel e cinicamente, minimizou todo o ocorrido dizendo: "Houve uma passeata". E seguiu com sua cavilação no Twitter: "Mas vocês não viram nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele",

Artigo de Vera Magalhães, O Globo, 14/07/2021

Os soluços do capitão   Vera Magalhães - O Globo Dizia minha mãe que um bom remédio para curar uma crise de soluço era um susto bem dado. Como toda simpatia, não tem eficácia comprovada. Taí Jair Bolsonaro para mostrar exatamente o contrário: a cada susto que leva, e têm sido vários, o presidente brasileiro fica mais constipado, mais engasgado.   Haja água bebida com o nariz tapado, outro truque infalível, só que não, transmitido de geração em geração contra essa incômoda contração involuntária do diafragma, diante de tanto calor que o capitão tem passado nas últimas semanas.   O desconforto abdominal de Bolsonaro é um daqueles momentos da crônica do poder em que fatos do dia a dia se prestam a perfeitas analogias com a situação política.   Nunca, em seus tenebrosos dois anos e meio de mandato, Bolsonaro esteve tão acometido por um desconforto, desta vez de natureza política, tão grande e tão prolongado. A ponto de tê-lo levado a tentar um recuo de sua retórica bélica. Algo tão sem cre

Carlos Andreazza, O Globo, 13/07/2021

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  Homem armado não chora, comandante   Carlos And reazza - O Globo   “Homem armado não ameaça” — ameaçou-nos o comandante da Aeronáutica, cujas balas são pagas por nós. Um tipo que só é armado por delegação da sociedade, à luz da Constituição, motivo por que deveria tratar o monopólio da força com responsabilidade e contenção, com humildade, reservando-se ao quartel, e não sob a lógica miliciana expansiva que desde há muito envenena o guarda da esquina e que, de capitão em capitão, contaminou a política.   “Homem armado não ameaça.” Age — né? Ocupa.   Discurso miliciano na atividade política não é novidade. Elegeu até presidente. Novidade é discurso miliciano por militar da ativa enquanto — lembrando-nos de que vai armado — comenta a vida política. Nada aprenderam. E ainda regridem. Pagarão a conta do mito. O comandante da Aeronáutica sendo mais um investido de condição — a de poder moderador da República — que as Forças Armadas só têm na mesa de dominó de clube militar. E a arrogância

Míriam Leitão, O Globo, 12/07/2021

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  Mendonça defendeu medidas inconstitucionais, como pode ser da corte constitucional? Por  Míriam Leitão 12/07/2021 • 14:13 André Mendonça e Jair Bolsonaro | Carolina Antunes/PR O ministro Marco Aurélio Mello se aposenta hoje e há a expectativa do anúncio oficial da indicação do presidente Bolsonaro do advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga no Supremo Tribunal Federal. Acho um péssimo nome. Não por causa da religião. Aliás, a religião não deveria entrar na política. André Mendonça recorre a Omar Aziz, adversário de Bolsonaro, e ajusta discurso na reta final por vaga no STF Ele está sendo escolhido por ser terrivelmente bolsonarista e se dispôs a seguir o presidente passando por cima de tudo, até da própria religião. Na sua posse como ministro da Justiça, chamou Bolsonaro de "profeta", uma definição bíblica para pessoas que foram muito especiais. Não há de ser o presidente Jair Bolsonaro com todos seus comportamentos tão estranhos. Fora isso, até hoje mostrou vár

Editorial do Estadão, 11/07/2021

Chega de chantagem A Nação não suporta mais chantagem. Basta de ameaças às instituições da República e ao regime democrático. É hora de coragem e firmeza na defesa da liberdade Notas&Informações, O Estado de S.Paulo 11 de julho de 2021 | 03h00 A Nação não suporta mais chantagem. Basta de ameaças às instituições da República e ao regime democrático que os brasileiros reconquistaram não sem grande sacrifício. É hora de coragem e firmeza na defesa da liberdade. O presidente Jair Bolsonaro não reúne mais as condições para permanecer no cargo. Acossado por sucessivos reveses morais, políticos, penais e administrativos, Bolsonaro parece ter mandado às favas os freios internos que o faziam ao menos fingir ser um democrata. Sua natureza liberticida falou mais alto. Como alguém que não tem mais nada a perder, o presidente se insurgiu contra a Constituição ao ameaçar de forma explícita a realização das eleições no ano que vem, como a Lei Maior determina que haverá. “Ou fazemos eleições li

Artigo de Fernando Gabeira, Estadão, 09/07/2021

Bolsonaro, a vida como desgraça O futuro exclui um presidente que devastou vidas, matas e a imagem do País Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo 09 de julho de 2021 | 03h00 Quando Bolsonaro fez aquele discurso dizendo que a vida dele era uma desgraça, possivelmente ainda não estava consciente do que o esperava. Suas queixas eram prosaicas, como não poder tomar um caldo de cana do outro lado da rua. À medida que o tempo passa, sua situação fica cada vez mais difícil. Não diria que a vida de Bolsonaro seja uma desgraça porque a vida, por definição, é uma graça. Mas nunca ele foi acossado por uma constelação de problemas tão sérios. A fase de negacionismo, que pode ter provocado a morte de milhares de brasileiros, já está documentada satisfatoriamente pela CPI da pandemia. Da mesma forma, a política de estimular a destruição dos principais biomas brasileiros tornou-se um fato reconhecido no mundo. E com a queda do então ministro Ricardo Salles, o que parecia apenas uma posição retrógrada

Artigo de Reinaldo Azevedo, FSP, 08/07/2021

Será que a proposta de uma greve de sexo levaria ao golpe militar? Não há ataque nenhum às Forças Armadas na fala do presidente da CPI 8.jul.2021 às 23h15 O mais forte só precisa de pretextos, não de fatos. Ainda que o cordeiro, na correnteza, mate a sua sede alguns metros abaixo, o lobo o acusa de sujar a sua água. Desmentido pela física, evoca questões de honra: "Você falou mal de mim!". E o sanguinário reaça engole aquele que apostou na ciência e no argumento. Dada a pusilanimidade da nota emitida na quarta, o ministro da Defesa e os três comandantes militares podem, sendo do seu gosto, entrar nesta fábula da fábula na pele do lobo, mas me parece que estão a ver cordeiros onde não os há. Esse filme já passou. Ameaçar com golpe é fácil. Dá-lo nem é tão difícil. A questão está em como mantê-lo. Seria o caminho mais curto para a cadeia. Melhor uma aposentadoria rechonchuda. A resposta dada pelos fardados ao senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, foi, obviamente, trucu

Editorial do Estadão, 09/07/2021

  Não é só negacionismo É equívoco pensar que a questão das vacinas envolve apenas funcionários de terceiro escalão. Jair Bolsonaro sempre se mostrou próximo e atento à questão Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 09 de julho de 2021 | 03h00 O depoimento de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, à CPI da Covid teve uma série de incongruências, que levaram o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), a decretar a sua prisão sob a acusação de crime de perjúrio. Horas depois, mediante pagamento de fiança, Roberto Ferreira Dias foi solto. A sessão de quarta-feira passada foi marcada por informações contraditórias e inverossímeis. A história que Roberto Ferreira Dias contou a respeito do encontro, num shopping de Brasília, com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti – que o acusou de pedir propina de US$ 1 por dose de vacina – fere a lógica e o bom senso. O exercício de cargo público deve envolver um mínimo de seriedade na p