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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Editorial do Estadão, 29/01/2024

  O poder de uma sociedade unida 35 anos da volta das diretas para presidente e 30 anos do real servem para lembrar que brasileiros são capazes de feitos extraordinários quando se unem em torno de objetivos comuns Em 2024, completam-se 35 anos da retomada das eleições diretas para o cargo de presidente da República no País e 30 anos do Plano Real. Ambos os marcos históricos revelam, inequivocamente, que a sociedade brasileira é capaz de feitos extraordinários quando decide se unir em torno de propósitos comuns; quando é capaz de reconhecer que há questões de interesse nacional que se impõem às diferenças político-ideológicas que possa haver entre os cidadãos – de resto um atributo próprio de qualquer democracia vibrante. Essa união dos cidadãos para reaver um direito político elementar e recuperar o valor de sua moeda, com o fim da hiperinflação, não surgiu por geração espontânea nem de longe foi obra do acaso. Tampouco derivou de diferenças essenciais entre o povo brasileiro de então

Editorial do Estadão, 27/01/2024

  Não foi essa a agenda que venceu a eleição Lula ainda não entendeu que só ganhou a eleição porque a alternativa era Bolsonaro. Ao tentar impor agenda petista de desbragada intervenção estatal, ele flerta com o desastre Diante da péssima repercussão da crescente pressão do governo petista para que a Vale aceitasse colocar o ex-ministro Guido Mantega na presidência da empresa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, correu a dar explicações, dizendo que o presidente Lula da Silva jamais interviria numa empresa de capital aberto. Acredita quem quer. O fato é que a pressão existiu, desvalorizando as ações da Vale – que, sintomaticamente, voltaram a se valorizar depois da informação de que o governo teria desistido de impor Mantega. E esse caso em particular, sobretudo por tratar de ingerência numa empresa que não pertence ao governo há 27 anos, é um dos principais sintomas de que Lula da Silva está convencido de que conquistou seu terceiro mandato não para “defender a democrac

Artigo de Demétrio Magnoli, Folha, 26/01/2024

Esquecer Auschwitz? Ação sul-africana e apoio do governo Lula a ela é estufa de mudinhas do antissemitismo 26.jan.2024 às 16h09 Este sábado (27), aniversário da libertação de Auschwitz, é o Dia Internacional da Memória do Holocausto. O governo da África do Sul, com apoio do governo do Brasil, decidiu enterrar a memória do genocídio dos judeus europeus por meio de uma cínica acusação de genocídio contra o Estado judeu. Na guerra civil síria, o regime de Bashar al-Assad matou mais de 300 mil civis. Cidades inteiras sofreram bombardeios devastadores. Forças do Irã e da Rússia participaram dos massacres. Nenhum país acusou a Síria, na CIJ (Corte Internacional de Justiça), de praticar genocídio. Com razão: a ditadura síria não cometeu o crime dos crimes. Genocídio requer a intenção de dizimar um grupo populacional inteiro. Assad pretendia destruir seus opositores, à custa de pilhas infinitas de cadáveres, mas não eliminar os muçulmanos sunitas. Na guerra de Gaza, Israel busca eliminar o Ham

Editorial do Estadão, 26/01/2024

  O PT tem horror aos fatos Ao lançar suspeitas infundadas sobre a idoneidade do jornalismo profissional, o chefe da Secom, Paulo Pimenta, deixa claro que só está onde está para servir de arauto da mitologia petista O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT-RS), foi às redes sociais há poucos dias para lançar suspeitas infundadas sobre a idoneidade do jornalismo profissional. O sr. Pimenta não gostou da cobertura da imprensa sobre os novos investimentos anunciados pelo presidente Lula da Silva na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um dos epítomes da incúria e da corrupção desbragada que marcaram indelevelmente os governos lulopetistas. Segundo o chefe da Secom, empresas da “grande mídia corporativa” estariam agindo em “sincronia e articulação” – eufemismo nada sutil para conluio – com o objetivo de “blindar o fracasso das privatizações”, seja lá o que isso signifique, e sabotar a “tentativa soberana do Brasil de retomar o c

Editorial do Estadão, 23/01/2024

  O nome disso é antissemitismo Ao defender boicote a judeus, Genoino mostra que o tal humanismo petista é só para alguns Era um sábado quando, em 1.º de abril de 1933, deu-se a primeira ação coordenada do regime nazista contra os judeus: naquele dia, os alemães “puros” estavam convocados a um boicote nacional instituído pelo ditador Adolf Hitler, não devendo comprar em lojas ou outros estabelecimentos que o governo nazista identificasse como de propriedade de judeus. Criaram-se listas de lojas que os nazistas consideravam ser de propriedade judaica, enquanto soldados uniformizados e membros da Juventude Hitlerista se postavam do lado de fora dos estabelecimentos e ameaçavam possíveis clientes. Dispensável prosseguir com as consequências trágicas e desumanas do que se iniciava a partir dali. Agora, em pleno 2024, foi também num sábado que o ex-deputado federal José Genoino, uma das mais célebres lideranças do PT e aliado inconteste do presidente Lula da Silva, defendeu um novo boicote

Editorial do Estadão, 24/01/2024

  Inquérito infinito Só incompetência ou caprichos justificam a nona prorrogação do inquérito das ‘milícias digitais’ O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu pedido da Polícia Federal (PF) e prorrogou por mais 90 dias o Inquérito 4874, que investiga a ação das chamadas “milícias digitais antidemocráticas”. É a nona vez que o inquérito, instaurado em julho de 2021, é prorrogado pelo ministro relator. E nada indica que terá sido a última. Não é possível dizer se, de fato, havia razões para mais essa concessão de prazo para a investigação. O inquérito é sigiloso e a PF apenas indicou a necessidade de mais tempo para cumprir “diligências ainda pendentes”, sem apontar quais caminhos o inquérito ainda teria de percorrer até a conclusão, passados dois anos e meio desde a abertura. A essa altura, porém, é perfeitamente possível afirmar que, das duas, uma: ou o STF e a PF estão lidando com uma das mais engenhosas e tentaculares organizações criminosas de que j

Editorial do Estadão, 24/01/2024

  A nova velha política industrial Plano anunciado pelo governo Lula reedita medidas fracassadas do passado recente e ignora o fato de que o declínio da indústria brasileira antecede em décadas a pandemia de covid-19 O governo finalmente lançou seu plano para reindustrializar o País. De novo mesmo, apenas o nome. A Nova Indústria Brasil (NIB), elaborada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), reedita várias das medidas testadas e reprovadas num passado recente, e o esforço do governo para negar as semelhanças não convenceu quase ninguém. O plano pretende resgatar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento. Desde a pandemia de covid-19 e a consequente desestruturação das cadeias produtivas, vários países desenvolvidos têm apostado suas fichas em políticas industriais que promovam um crescimento mais inclusivo e sustentável e que diminuam a dependência dos produtos chineses, entre os quais Estados Unidos e Europa. O Brasil parecia estar disposto a seguir esse

Artigo de André Lajst, O Globo, 21/01/2024

Conflito no Oriente Médio, a visão israelense: A cabeça de Adir e a Guerra em Gaza.  Decapitação de soldado revela que paz só virá com derrota do Hamas No dia do enterro de Adir Tahar, no cemitério do Monte Herzl, o caixão chegou fechado. A morte do jovem, que servia numa base da Brigada Golani, perto da fronteira com a Faixa de Gaza , foi confirmada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) juntamente à de outros 15 soldados, numa das tantas listas de vítimas que se atualizavam a toda hora desde o fatídico 7 de outubro . Ele e seus companheiros tinham caído em combate quando tentavam proteger os moradores da vizinhança, famílias inteiras que estavam sendo massacradas a sangue frio. No local onde morreu, eram 18 soldados contra centenas de terroristas do Hamas , mas lutaram até o fim. Adir era de Jerusalém; tinha 19 anos. Foi um dos 1.200 israelenses mortos naquele dia , na maior matança de judeus por serem judeus desde o Holocausto nazista. Antes do enterro, o pai foi avisado: não era u

Artigo de Luiz Felipe Pondé, Folha, 15/01/2024

Elite intelectual é míope com extrema direita porque tem nojo do povo comum Profissionais do pensamento público não podem confessar desprezo por 'ignorantes que votam em gente horrorosa ' Quem tem medo da extrema direita? O século 20 nos legou razões de sobra para termos medo da extrema direita. Mas algo me diz que esse fato histórico não justifica pura e simplesmente o pânico que a expressão causa na bolha da inteligência pública. E por quê? Ora, o século 20 também nos legou razão suficiente para temermos a esquerda —União Soviética, China e afins— e, no entanto, a palavra "esquerda", na mesma bolha que teme a extrema direita, não causa pânico nem xixi na cama, mas sim orgasmos múltiplos. Dirá o leitor: "mas que incoerência!". Dirá o escriba: "tolinho, onde você achou que havia coerência na bolha dos cultos?". O uso da expressão "extrema direita" pela inteligência pública tem lá suas imprecisões. Por exemplo, dizer que "Bibi" N

Editorial do Estadão, 13/01/2024

  Venda casada Ao colocar Dino no STF e Lewandowski na Justiça, Lula deixa claro que o jogo político se dará no Supremo. Se é uma garantia de governabilidade, também é óbvia deformação do sistema A tacada dupla de nomeações, consumada com a imagem do presidente Lula da Silva circundado por Flávio Dino e Ricardo Lewandowski no Palácio do Planalto, reafirma o movimento de aproximação entre o Executivo e o Judiciário como forma de sustentação da governabilidade. Pelas indicações casadas, pelo histórico de ambos e pelo discurso sem filtros de Lula, o gesto sela em definitivo aquilo que se avizinhava: uma aliança tática do governo com o Supremo Tribunal Federal (STF), o reforço da politização da Corte e sua consolidação como fiador de um novo arranjo institucional, no qual exerce papel crescente na arena política. Na cosmologia lulopetista, o sentido é o mesmo ao nomear como seu novo auxiliar um ex-integrante da Corte que deu sucessivas demonstrações de apreço e proteção jurídica ao próprio

Editorial do Estadão, 12/01/2024

  Diplomacia estouvada Lula quer posar de estadista e de humanista, mas, ao endossar formalmente uma acusação infundada de genocídio contra Israel, revela que ainda lhe falta o básico: prudência O governo brasileiro tomou a infeliz decisão de endossar a denúncia por “genocídio” contra Israel apresentada à Corte Internacional de Justiça (CIJ) pela África do Sul no fim de dezembro. Pouco importa se esse alinhamento decorre de ignorância, cálculo político ou má-fé do presidente Lula da Silva e dos acólitos que o orientam na condução da política externa. O fato é que o Brasil só tem a perder se imiscuindo dessa forma lamentável numa questão muitíssimo complexa – e para a qual não está devidamente apetrechado para exercer qualquer influência relevante. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o caso apresentado pela África do Sul não leva em conta o fato de que Israel foi atacado por um grupo terrorista cuja missão declarada é exterminar os judeus. Ademais, identifica intenções genocidas

Editorial do Estadão, 10/01/2024

  Lula, o presidente Sol A julgar pelo discurso do presidente a propósito do 8 de Janeiro, o Brasil gira em torno do lulopetismo, aquele que, nas palavras de seu líder, é a ‘garantia’ da democracia nacional Não há mais dúvida: o Brasil gira em torno de Lula. Esse arremedo de Luís 14 considera que a história dele e a do PT são a “garantia”, segundo suas próprias palavras, de que a democracia brasileira existirá “inabalável” no País. O demiurgo petista detalhou sua teoria lulocêntrica perto do final de seu discurso por ocasião do evento de anteontem, em Brasília, que lembrou o primeiro aniversário da tentativa de golpe de Estado promovida por hordas bolsonaristas. Era para ser um pronunciamento adequado ao momento solene – no qual era preciso enfatizar o papel das instituições na resistência à barbárie dos liberticidas que, insuflados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, pretendiam criar o caos a partir do qual, conforme seus delírios, produzir-se-iam uma ruptura e o estabelecimento de um

O que a Folha Pensa, 10/01/2024

Ataque à liberdade Moraes e Lula ameaçam direito à expressão com discursos perigosos sobre o 8/1 Era previsível alguma politização da cerimônia que marcou a passagem de um ano do ataque às sedes dos três Poderes, em Brasília. O ato de estupidez golpista de uma turba de bolsonaristas desvairados, afinal, ainda rende apoios ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sociedade e nas instituições. Entra-se em terreno perigoso, entretanto, quando um evento destinado a celebrar o vigor da democracia é aproveitado para a tentativa de impulsionar uma controversa pauta legislativa —e, pior, com manifestação de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Sem o comedimento que se espera de um magistrado, Alexandre de Moraes, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral, usou seu discurso para defender em termos hiperbólicos o endurecimento da regulamentação da internet. "Hoje também é o momento de olharmos para o futuro e reafirmarmos a urgente necessidade de neutralização de um dos grand

Artigo de Carlos Andreazza, O Globo, 09/01/2024

  Crítica construtiva, ministro Por Carlos Andreazza 09/01/2024 04h30 Atualizado 09/01/2024 Alexandre de Moraes deu entrevista ao GLOBO. Um ano do 8 de Janeiro. Documento já histórico; em que justifica o afastamento de governador com o argumento de “evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista”. Ibaneis Rocha, eleito, afastado para dar exemplo; para que, o Supremo monocrata se antecipando a pretenso “efeito dominó”, nenhum outro governante se animasse. E tudo bem. Pela democracia, à margem do Direito. Não ornará, não em linguagem compatível com a República, um arranjo em que, para desmontar o 7 de Setembro permanente de Bolsonaro, prospere este estado de vigília; que, sob a inatacável defesa das instituições democráticas, legitime medidas de exceção e interdite o debate público — a ser fascista, trabalhando pela volta do capeta, aquele que criticar o governo Lula e as extravagâncias xandônicas. Este estado de vi

Segundo Editorial do Estadão, 07/01/2024

  Mais um pacote de incentivo às montadoras Conceder benefícios para estimular a produção de automóveis definitivamente se transformou numa regra, adotada por diferentes governos há 70 anos; o pretexto agora é a descarbonização No apagar das luzes de 2023, o governo lançou mais um pacote de incentivos para montadoras de veículos. A título de promover a descarbonização, o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) vai oferecer um total de R$ 19,3 bilhões em incentivos fiscais até o fim de 2028. Há uma condição adicional, no entanto, para usufruir do benefício. A indústria terá de produzir os veículos no Brasil. E, para bancar parte do benefício, o governo contará com a arrecadação oriunda do Imposto de Importação sobre carros elétricos e híbridos, que voltou a ser cobrado em 1.º de janeiro. Quando foi anunciado, em novembro, o fim da isenção de veículos eletrificados foi elogiado por este jornal. Era um bom exemplo a explicar a regressividade da carga tributária brasileira. Afinal, so

Editorial do Estadão, 07/01/2024

  A força e a fraqueza do Supremo Apesar das corretas alterações regimentais de 2022, STF segue apegado à velha cultura, ignorando que o poder da Corte é inversamente proporcional ao poder individual de cada ministro No fim de 2022, sob a presidência da ministra Rosa Weber, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou duas alterações em seu Regimento Interno que, de forma prática, reduziam o poder individual dos ministros. Os pedidos de vista passaram a ter prazo de 90 dias para devolução. Após esse período, os autos ficariam automaticamente liberados para a análise dos demais ministros. A segunda mudança referia-se às decisões cautelares monocráticas, que deveriam ser submetidas imediatamente a referendo do Plenário ou da Turma, a depender da competência do caso. As duas mudanças regimentais contribuíam para uma atuação mais colegiada da Corte constitucional. Não reduziam o poder do STF, apenas limitavam o poder individual de seus ministros. Explicitavam, assim, uma realidade instituciona

Editorial do Estadão, 06/01/2024

  Falatório não reduz criminalidade Com incurável mania de grandeza e confusão entre comunicação pública e governamental, o PT combate um problema real e uma insatisfação da população com campanha publicitária Eis uma certeza nos métodos de gestão lulopetistas: resultados modestos em áreas centrais, dificuldades em programas governamentais, questionamentos da população, tudo isso se resolve com uma boa campanha publicitária. Nada de dar prioridade ao necessário ajuste, a partir de métricas e avaliação das políticas implementadas. Nada de fazer uma correção incremental de rumos, algo natural na boa gestão pública. Nada de concentrar recursos para campanhas de utilidade pública e prestação de serviços. A bala de prata petista, mais eficiente segundo tal lógica, é a chamada “disputa de narrativa”, capaz de difundir o discurso triunfalista, governista e partidário. A nova evidência dessa deformação de propósitos é a informação de que uma das primeiras campanhas de 2024 será destinada à seg