Artigo de André Lajst, O Globo, 21/01/2024

Intolerância

Em uma conferência na Alemanha, o Papa Bento XVI mencionou palavras atribuídas a um imperador cristão ortodoxo com o seguinte teor: "Mostre-me tudo o que Maomé trouxe de novidade, e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como sua ordem de espalhar com a espada a fé que ele pregava". Os muçulmanos se sentiram ofendidos e estão exigindo desculpas formais do Vaticano, lembrando, inclusive, as atrocidades cometidas pelos cruzados na idade média. De nada adiantaram as explicações dadas pela Igreja Católica, no sentido de que foi somente uma citação de palavras de outrem, não representando a posição do Vaticano e nem o pensamento do Papa. Até o parlamento paquistanês aprovou resolução exigindo pedido de desculpas, além de várias manifestações de líderes muçulmanos fazendo o mesmo. Acho que o Papa não tem de pedir desculpas, porque a atitude dos muçulmanos revela, apenas, a intolerância que os caracteriza, não aceitando qualquer pensamento que entendam ser diverso do seu. Esta intolerância se revela nos próprios países onde prevalece a religião muçulmana. Neles, não se pode ter qualquer símbolo cristão ostensivo e não se pode professar abertamente a fé cristã. Em alguns, ser cristão pode até ser ato criminoso, como recentemente ocorreu no Afeganistão, onde condenaram um muçulmano que se convertera ao cristianismo, acusando-o de traição ao profeta Maomé. Entretanto, eles exigem que nos países de cultura cristã possam manifestar abertamente sua fé e vestir-se de acordo com as regras de sua religião. Chegam, até, a promover movimento visando excluir, dos locais públicos, o símbolo do cristianismo que é a cruz e que faz parte integrante da civilização ocidental. Em resumo: eles são os intolerantes em sua terra e aproveitam-se da liberdade vigente no ocidente para tentar impor sua crença. Quanto à citação das cruzadas, basta ter conhecimento mínimo da história para saber que, antes delas, parte da Europa estava dominada pelos árabes, que a haviam invadido. Assim, os cristãos que a libertaram dos árabes não podem ser acusados de ter iniciado o embate militar com os muçulmanos. Por fim, vale repetir a citação feita pelo Papa: O que Maomé trouxe de novidade boa para o Mundo? Se souber de alguma, avise-me.