Augusto Nunes - Jornal do Brasil

Juscelino e Lula: nada a ver
Na região do Québec, as placas de todos os carros exibem a mesma inscrição em francês: Je me souviens. A curta advertência reitera que, embora incorporada ao Canadá de fala inglesa, aquela gente não esquece as origens, o passado, a História. Todos se lembram, avisam centenas de milhares de veículos.As pesquisas sobre a corrida às urnas informam que brasileiros preferem esquecer – fatos, episódios, dramas, qualquer coisa, por mais fresca esteja na memória. Eleitores de Lula enfurnam no baú que guarda a foto do batizado ou a roupa da primeira comunhão escândalos recentíssimos – as revelações de Jefferson, o ladrãozinho dos Correios, a calva obscena de Marcos Valério.Os habitantes do Québec têm memória porque têm o caráter que falta a multidões de devotos do Grande Pastor.Como esquecer em meses o que fizeram os Zés do PT, Nosso Delúbio, Silvinho Land Rover, “Estuprador de Contas” Palocci, Paulo “Trem Pagador” Okamotto, Ângela “Pizzaiolla” Guadagnin?Que espécie de lobotomia terá suprimido da memória coletiva os 40 gatunos a serviço do Ali Babá federal, o Gushiken das Pensões, o Duda Mendonça e sua lavanderia internacional de dinheiro verde?E os favores milionários da Telemar que lubrificaram a cabeça de Lulinha? E a procissão de mensaleiros, vampiros e sanguessugas? E a torpeza oficializada, a moral em concordata, a falência da ética?Inspirador e principal beneficiário da Grande Mentira, Lula passará à História como um Jânio Quadros com efeito prolongado, um Fernando Collor que adiou a hora do castigo. Inútil tentar compará-lo a Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, como fazem todo o tempo os cínicos, os áulicos e, sobretudo, os jornalistas incluídos na versão daslu do programa Bolsa Família.Também Juscelino, recita a imprensa lulista, sofreu acusações sem fundamento. Algumas eram pertinentes, como provariam anos depois as memórias de Samuel Wainer. Mas nem o mais delirante dos udenistas ousaria atribuir a JK um milésimo das patifarias estreladas pelo atual presidente.Há mais. JK era homem de fino trato. Cercava-se de talentos. Convivia cordialmente com aliados ou adversários. E lia. Nada a ver com Lula.

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