Triste realidade...

AOS POUQUINHOS, O BRASIL PERDE A VERGONHA NA CARA, Blog do Josias
17.05, 17h40
Blog do Josias

Lembra da Operação Furacão? Pois é, virou coisa de ontem. A fila de perversões já andou. A operação da hora chama-se “Navalha”. Foram à garra, por hora, mais 46 pessoas. São acusadas de crimes comezinhos: mutretagem de licitações e desvio de dinheiro público destinado a obras. Entre essas obras algumas previstas, veja você, no novíssimo PAC. Vai começar tudo de novo!

Mais escandalosa do que um novo escândalo, é a insuportável reiteração de escândalos. Um atropelando outro, uns se desdobrando em outros. A reincidência dos crimes é a mais eloqüente evidência do ilógico político que enreda o país.

Em tese, é salutar que o crime seja içado da zona de sombras em que se desenvolve para o nível do conhecimento público. A descoberta sugere uma atmosfera política benigna. Fica-se com a benfazeja impressão de que os transgressores estão sendo desmascarados.

Mas a repetição absurda deixa uma sensação de cansaço, de que não adianta. Resta a incômoda constatação de que reina no Brasil a inconseqüência. Ninguém paga por nada. Ora livram-se na Justiça ora são salvos pelo voto.

Ninguém parece ter biografia. Ou, por outra, todo mundo é eterno candidato à reabsolvição. As urnas conferem ás almas delituosas o direito à eterna regeneração. Os crimes do poder, entre nós, não acabam em castigo.

O hábito da impunidade consagra o princípio de que, acima de um certo nível de renda, nada é tão grave que justifique o desconforto além da conta. No máxima uma ou duas semanas de cadeia e alguns dias de embaraço social.

À velha quadrilha sempre se sucederá uma nova. A cada prefeito, deputado, governador, policial ou magistrado pilhado em malfeitorias se seguirão outros. A um empresário comprador de facilidades sobrevirá outro.

O Brasil não é mais um país em que os escândalos vicejam como em ritmo quase diário. Não, não, absolutamente. Vai-se demonstrando, em si mesmo, uma nação intrinsecamente corrupta.

Poder-se-ia argumentar que o Brasil do povão, esse país distante dos circuitos do dinheiro e da influência, não tem nada a ver com a encrenca. Mas não é bem assim. A corrupção nasce do voto. Os mensaleiros, os sanguessugas, os Malufs, os Jáderes e outros azares não brotam por geração espontânea.

Nesta quinta-feira, desceram ao xilindró outros empresários, lobistas e políticos ilustres. A lista de suspeitos inclui empreiteiro, governador, ex-governador, filhos e sobrinhos de governador, funcionário de ministério, servidor da CEF e um interminável etc. Logo serão soltos. Na Justiça, vão servir-se das chicanas de sempre. Logo, logo ganham novos mandatos político.

Agora mesmo, a gestão Lula negocia com os sócios do consórcio governista a composição do segundo escalão. Barganha-se tudo. Ouve-se aquele indisfarçável barulhinho do tilintar de verbas e cargos, trocados por apoio congressual. Vigora um espírito de bazar que não poupa os bancos nem as empresas estatais. Acomodam-se na engrenagem pública uma penca de novos escândalos esperando para acontecer. O Brasil, aos pouquinhos, vai perdendo a vergonha na cara.

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