Reinaldo Azevedo

Reinaldo Azevedo é, hoje, um dos maiores nomes no jornalismo político. Tem cultura invejável. Posto abaixo, em itálico, trecho por ele publicado hoje que bem reflete a situação preocupante que estamos vivendo. Aborda as ações espalhafatosas da polícia federal e a exposição dos presos à mídia.

Estado de direito
Vivemos dias em que o estado de direito está valendo muito pouco. Como sabemos que há mesmo muitos safados nessa lambança, esses espetáculos podem parecer uma punição justa. Infelizmente, não vejo nisso tudo — refiro-me ao espalhafato — senão a farsa de que “agora, pegamos também os ricos”. A questão não está em saber se essas pessoas merecem ou não ser enxovalhadas. A questão é saber se elas estão sendo submetidas ao tratamento legal. Porque é bom que se saiba: se não estiverem, isso significa que você também está correndo risco. Quanto o estado de direito não vale para bandido, o cidadão comum também está ameaçado. Porque significa que se transgrediu um umbral a partir do qual tudo vale. E nada disso se confunde com impunidade.Ao contrário. Com mais ciência e menos barulho, talvez seja possível pôr mais bandidos na cadeia — para que fiquem lá. Da forma como as coisas estão sendo feitas, alguns vagabundos acabarão se beneficiando dos vícios da operação. Do conjunto, a questão mais séria é a facilidade e quase banalidade com que o Judiciário está autorizando prisões temporárias. Mas vá lá. Por temporária, “para investigação”, seria preciso garantir um mínimo de privacidade ao detido. E se a investigação concluir que não há nada? Como acontece com “eles” em razão de uma interpretação um tanto lábil da lei, é preciso considerar: pode acontecer com qualquer um de nós.Considerem que os métodos do Executivo para fazer política no Congresso são os mesmos, que a maneira de se formar a maioria é a mesma, que o ambiente da cooptação é o mesmo. E, no entanto, a Polícia Federal se tornou onipresente. Em vez de melhorar a política com uma moral mais refinada, o que se faz é usar a polícia para selecionar culpados. A política terminou mesmo como caso de polícia.E, como de hábito, parece que tudo acontece muito longe de Lula. Mesmo quando um ministro seu cai no rastro da crise. Em suma: o processo político se enfraquece, e ele se fortalece. Reitero: punição a quem for culpado. E é chegada a hora de saber que destino tiveram as centenas de pessoas presas, sob os holofotes, nas dezenas de operação da PF.
O endereço do blog de Reinaldo Azevedo é: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Artigo de André Lajst, O Globo, 21/01/2024

Artigo de Natália Pasternak, O Globo, 21/08/2023

Artigo de Carlos Andreazza, O Globo, 02/06/2023