Tempos talibãs

Guilherme Fiuza

O Brasil vive uma fase curiosa. Finalmente tem um presidente que veio da pobreza, e isso deixa todo mundo aliviado. A cada erro de português de Lula, os brasileiros, do Vale do Jequitinhonha ao Morumbi, dão um sorriso triunfante: o povo chegou ao poder.

É claro que ainda existem elites material e culturalmente abastadas, e isso é desconfortável. Mas aí também a coisa está em mutação. Há uma nova elite se afirmando, aquela representada por gente como Silvinho Pereira, Delúbio Soares – República de Osasco e adjacências, gente que se ufana de ter se graduado na universidade e continuar ignorando o plural.
Os companheiro sociólogo estão certo. Agora todo mundo somos igual.

Essa obsessão pela igualdade ao rés-do-chão vai produzindo algumas pérolas. Se a carga tributária esfola os “mais ricos” (que às vezes ganham dois mil reais por mês), o Brasil comemora a redução da desigualdade. E culturalmente, parece que estaremos felizes no dia que a máxima erudição for uma metáfora futebolística envolvendo o Corinthians.

É essa a impressão que se tem diante da notícia de que o governo federal vai tirar do ar o portal Domínio Público, por insuficiência de acessos. Ali se pode ler de graça Shakespeare em português, tudo de Machado de Assis, Fernando Pessoa, Joaquim Nabuco, e por aí vai.

Pensando bem, faz sentido. Pra que isso tudo? Você se sente bem lendo que “O coração, se pudesse pensar, pararia” (Livro do Desassossego) enquanto há milhões de brasileiros analfabetos por aí? Não é justo.

Melhor tirar logo o Domínio Público do ar. Se não podemos todos nos igualar em Fernando Pessoa, nos igualemos na ignorância.
Que alívio.

Comentários

Anônimo disse…
ótimo texto. É a cultura da ignorância. Estudar é vergonhoso! Vamos seguir o exemplo do presidente, que apesar de ignorante, chegou ao poder. Ele não viu nada, não sabe de nada! É o que receberemos de legado pelos 8 anos de governo do PT.
Anônimo disse…
ignocracia.

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