Brasil Monarquia!

O Brasil, quem diria, é uma monarquia!
por Jorge Omar Oliveira em 26 de janeiro de 2007
Resumo: Se os nobres estão bem, arbitrando livremente seus proventos oficiais (e extra-oficiais), qual o inconveniente do país não crescer? © 2007 MidiaSemMascara.org

O Brasil não cresce, com exceção de algumas bolhas, faz anos.
Os economistas já tentaram desde ortodoxia até pajelanças e tudo ficou como estava – ou pior.
A única explicação, por mais improvável que seja, é que vivemos em uma monarquia.
Se os nobres estão bem, arbitrando livremente seus proventos oficiais (e extra-oficiais), qual o inconveniente do país não crescer?
Uma monarquia disfarçada que de tempos em tempos realiza uma eleição 'para inglês ver', de modo a dar aos plebeus uma impressão de que eles servem para alguma coisa (além de pagar impostos escorchantes, é claro).
A mesma monarquia que por volta do ano 1500 criou os cartórios para vender cartas de navegação, que levou Mauá à falência por ter-se tornado mais importante que o imperador.
Não acredita?
Responda então: para um deputado ofender a mãe de outro, qual o tratamento a ser usado? É, se não for Vossa Excelência, pode ter o mandato cassado por falta de decoro!
Nem o presidente dos Estados Unidos é tratado como Excelência. E ele é um pouco mais importante do que nossos governantes...
Construímos nossa Camelot no planalto central, uma cidade concebida totalmente para abrigar os nobres e sua corte – nenhuma outra finalidade.
O Rei, claro, todos sabem quem é.
Mora em um Palácio - não é interessante que o palácio tenha sido construído já na república?
O presidente dos Estados Unidos deve morrer de inveja!
Como todo rei que se preze, tem uma corte – conhecida como ministros e assessores, a maioria amigos do peito ou cupinchas.
Capacidade administrativa é um parâmetro secundário.
Temos duques e condes – que, lógico, também têm uma corte, mas formadas apenas por assessores – muitos escolhidos entre parentes e amigos, pois devem ser 'de confiança'.
A justiça também tem sido muito parcial. Os processos contra nobres só podem ser abertos em foro privilegiado (por mais comezinho que seja o crime).
Arrastam-se por uma eternidade, muitas vezes caducando antes do fim do julgamento.
Já se um plebeu rouba um pão...
Ocasionalmente, os nobres são submetidos ao julgamento de seus pares.
O resultado de tais julgamentos é sobejamente conhecido – salvo poucas exceções, são todos inocentados. Aos nobres não se aplicam as leis – estas servem apenas para plebeus.
Fora de Camelot temos príncipes – que também moram em palácios, de novo muitos construídos ou assim batizados já na república, com suas cortes em que capacidade administrativa é parâmetro secundário.
Temos milhares de barões espalhados pelo país
Quando faltam cidades para mais barões, é realizado um plebiscito, uma cidade é dividida e cria-se um novo baronato.
O fato de que o baronato é economicamente inviável (cerca de ¾ do total, segundo o IPEA) não faz a menor diferença.
Uma das características de nossa monarquia é que é possível a um plebeu ascender a ela.
Seja via eleições, seja via nomeação (em sua maioria cargos 'de confiança') ou via concurso público, após o qual ele se torna um cavaleiro da corte.
Mas a maioria dos que ascendem não saem mais, fazendo com que a corte não pare de crescer – junto com os custos para mantê-la.
Uma das razões deste crescimento é que é praticamente impossível reduzir os quadros – na prática não se demite um cavaleiro, independente de seu desempenho, tornando os cargos quase vitalícios.
Vitalícios também são os cartórios, o símbolo mais visível da burocracia, que até pouco tempo eram hereditários, como qualquer título nobiliárquico que se preze.
Um outro tipo de feudo é o das empresas estatais.
Seus funcionários deveriam ser regidos pelas leis trabalhistas como o resto da população, mas na prática fazem parte da nobreza – com o governo cobrindo rombos em fundos de pensão, aumentando tarifas acima da inflação para cobrir ineficiências, etc.
Para se perpetuar no poder, nossa monarquia age de uma forma similar à do império romano – para os patrícios, benesses (BNDES, etc); para os plebeus da classe baixa (75% de analfabetos funcionais), pão e circo - bolsas família, carnaval, festas religiosas, etc.
A classe média (que, tirando-se fora os funcionários públicos, é minoria absoluta nas regiões norte-nordeste) que se vire para pagar os impostos.
Em teoria, uma nova constituição poderia mudar o país – mas os constituintes de 1988 tomaram suas precauções, impedindo a convocação de uma constituinte...
Devemos todos 'agradecer' a Juscelino por fundar Brasília, Geisel por tornar o país uma federação não representativa e a Sarney por convocar uma constituinte formada por nobres para legislar em causa própria.

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