Análise bem feita

América Latina: Avante, para trás!

Por Ubiratan Iorio
Publicado em 30/01/06 no Jornal do Brasil

Pobre América Latina, em que se vem observando a ascensão de presidentes comprometidos com a “revolução” socialista e com o falso axioma de que, “se João é pobre, então é porque Pedro é rico”, a riqueza do segundo sendo condição necessária e suficiente para explicar a pobreza do primeiro... Em pleno século XXI, prevalecem o pensamento rupestre, o discurso primevo e as atitudes paleolíticas... Parece que, fora do Brasil – em que o próprio PT tratou, a golpes firmes de corrupção, de se desmistificar -, os objetivos do Foro de São Paulo vêm sendo galgados, degrau por degrau: o plantador de cocaína e índio Evo Morales, na Bolívia, com seu MAS – Movimento ao Socialismo, o sanguinário Fidel, na Disneylandia das esquerdas que hablan español, o pateta louco Chávez, o narigudo-arrogante Kirschner, na Argentina, o inexpressivo Tabaré Vasquez, no Uruguai, a ex-guerrilheira com passado “histórico” de presa política Michelle Bachelet, no Chile e, provavelmente, em abril, o “nacionalista” Ollanta Humala, no Peru e outro dinossauro populista, López Obrador, nas eleições de julho próximo, no México, posam e são tratados como forças “populares”, estadistas, “nacionalistas”, democratas e defensores dos pobres e arvoram-se em salvadores de suas pátrias, tudo isso sob os aplausos do governo brasileiro e com a omissão da comunidade internacional, inclusive dos Estados Unidos, que representa, neste triste atalho para a pobreza coletiva, o papel do Pedro, rico, desumano e explorador... Desses casos, apenas no do Chile, em que as instituições democráticas já estão fortemente consolidadas, sendo a eleição de Bachelet apenas uma manifestação democrática de uma salutar alternância de poder e, talvez, no do México, por sua proximidade com os Estados Unidos, os perigos do avanço do atraso são menores.
Eleger presidentes populistas e “esquerdopatas”, acrescidos do atributo adicional do despreparo intelectual, é caminhar a passos largos e decididos para perpetuar a pobreza e aumentar a distância que separa a América Latina do primeiro mundo. Não se aprendeu a lição básica de que o maior dos insumos para o desenvolvimento é a liberdade, mais especificamente, a tríplice liberdade: política, econômica e de livre expressão. Assim, a região, que em 1776 tinha um PIB equivalente ao das treze colônias que originaram os Estados Unidos e que teve até agora exatos duzentos e trinta anos para fazer o dever de casa, prefere mais uma vez cabular a aula e ir bater, descalça, uma bolinha no terreno baldio e cheio de cacos de vidro das experiências populistas. O maior equívoco do século passado foi a crença pia em que a engenharia social do Estado poderia intervir na ordem social espontânea para tirar as economias de um suposto “círculo vicioso da pobreza” e, milagrosamente, inoculá-las com uma injeção de progresso, na seringa dos gastos públicos direcionados a setores pré-determinados por burocratas iluminados. Levada ao extremo, essa fé cega assassinou milhões de inocentes, como nas experiências do nacional-socialismo (nazismo) e do comunismo, em que os grupos no poder, alimentados pela arrogância de intelectuais que pensavam ser possível imporem o seu conceito peculiar de “felicidade” a todos, fizeram estragos que macularam indelevelmente a civilização. Eis o que o tal “Forum Social” propõe.
Nas paragens latino-americanas, infelizmente, ainda se crê que o Estado, pretenso detentor do conhecimento, pode “criar” desenvolvimento econômico e melhorar a vida das populações, especialmente a dos pobres. Ora, fora “pequenos problemas”, como a inflação, as dívidas interna e externa e a crescente tributação provocados por essa seita que, em nome de um falso “nacionalismo”, inchou o Estado, transformando-o em um balofo e lerdo monstro pré-histórico, incapaz de controlar seus próprios movimentos, quais os resultados positivos produzidos? Nossos países se desenvolveram? A miséria foi erradicada? A pobreza foi reduzida aos padrões mínimos de dignidade da pessoa humana? A renda tornou-se menos concentrada? Definitivamente, não aprendemos a lição e estamos agora como que prescrevendo cachaça para um alcoólatra, porque, onde tais políticas foram colocadas em prática, em todas as latitudes e longitudes, fracassaram, empobrecendo formidavelmente países e cidadãos. A trombeta latino-americana soa: avante, para trás!

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