Elio Gaspari

SEIS PETISTAS MOSTRAM A FACA: PLEBISCITOS
07.02, 14h40
por Elio Gaspari, na Folha de S. Paulo

A banda do tucanato que patrocinou a vitória de Arlindo Chinaglia na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, não sabe o tamanho do mal que fez à política, aos costumes e às instituições democráticas.
Para quem duvida, aqui vai um trecho de documento divulgado há dias por seis deputados federais petistas de São Paulo:
"Se o presidente da República pode editar medidas provisórias cada vez mais sob o crivo de críticas por seu vezo autoritário-, por que não pode ele, sem este vício originário, convocar plebiscitos sem autorização legislativa para decidir questões de grande alcance nacional?"
Entre os signatários da peça estão José Mentor (aquele da CPI do Banestado, mensaleiro absolvido pelos seus pares) e Cândido Vacarezza um dos principais articuladores da candidatura de Chinaglia.
Quais são as questões de grande alcance nacional que os companheiros gostariam de ver resolvidas num plebiscito? Pode haver outras, mas dificilmente haverá alguém capaz de defender o chamado a manifestações plebiscitárias sem que o direito de Lula disputar o terceiro mandato seja o primeiro item da consulta.
Surgido o ingrediente plebiscitário é preciso lembrar que antes dele haviam-se acendido dois sinais. Primeiro a bem-sucedida negociação do salário-mínimo com as centrais sindicais, atribuindo ao Congresso o papel de vaca de presépio. Nosso Guia já deu sobejas demonstrações de que considera as centrais um foro melhor qualificado que o Parlamento para discutir matérias previdenciárias e salariais. Depois, a malograda proposta de Lula para que se discutisse a convocação de uma mini-Constituinte, a ser eleita nos primeiros meses deste ano.
Essas peças não fazem parte de um jogo articulado, até porque todas as grandes iniciativas petistas devem ser observadas descontando-se a taxa de alopramento dos "altos companheiros". No caso da mini-Constituinte, bastou uma curta entrevista do ex-ministro Célio Borja para que os sábios debandassem, dando o assunto por esquecido.
Mesmo assim, o sentido das propostas indica que uma banda petista está desconfortável dentro da atual moldura das instituições. Para um ativista político que não tem compromisso com essas formalidades, nada melhor do que um Congresso avacalhado, com uma oposição desmoralizada.
O tucanato finge que não vê esses movimentos porque está disposto a fazer qualquer coisa contra Nosso Guia, menos oposição. Ou melhor: faz oposição, desde que não tenha que botar a cara na vitrine. Por dever de justiça, deve-se registrar que FFHH está fora disso. Provavelmente é hoje o único oposicionista do seu partido.
Pode-se argumentar que tucanos como José Serra e Aécio Neves, não devem hostilizar o palácio do Planalto, sob pena de prejudicar os interesses de São Paulo e de Minas Gerais. Tripla injustiça. Desmerece a inteligência dos dois, a memória de todos e ofende duas biografias muito caras aos grão-tucanos. Em 1984, durante o governo do general João Figueiredo, os governadores Franco Montoro e Tancredo Neves fizeram a campanha das Diretas Já, sem que seus Estados sofressem represálias. Será que Lula faz medo aos governadores? Serra estava no secretariado de Montoro e Aécio é neto de Tancredo. Eles conhecem bem a história. Mesmo que quisessem, não conseguiriam esquecê-la.

Comentários

Anônimo disse…
Na verdade, a banda do tucanato que patrocinou a vitória de Arlindo Chinaglia sabe, sim, o tamanho do mal que fez à política, aos costumes e às instituições democráticas, entretanto, estão preocupados com os próprios interesses. Infelizmente não se pode esperar outra coisa desses políticos de hoje em dia..

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