Duas ditaduras que se completam

Médico diz que era um "escravo qualificado' 

DE CARACAS

Por quatro anos e meio, Miguel Majfud, médico cubano da cidade de Holguín, diz ter vivido num circuito fechado: do trabalho numa unidade do programa Bairro Adentro para o alojamento designado pelo governo venezuelano e vice-versa.
"Em Cuba, há fome. E viajar é uma maneira de garantir um pouco de bem-estar a sua família", continua ele, que fugiu no final de 2008 e buscou um visto especial do governo americano para "profissionais de saúde cubanos em terceiros países".
Os médicos cubanos que integram Bairro Adentro recebem alojamento e, até o começo de 2009, ajuda de custo de 715 bolívares fortes (US$ 166). Um médico venezuelano no programa recebe, em média, 3.200 bolívares fortes (cerca de US$ 750).
Comparado aos US$ 23 do salário médio de um médico em Cuba, é atrativo. Sem falar que a família que fica na ilha recebe entre US$ 75 e US$ 200, dependendo do tempo de permanência na missão.
Há ainda um pequeno fundo-poupança resgatável ao final do trabalho. Os cubanos também se animam em poder levar para casa, nas férias, eletrodomésticos.
Mas, segundo Majfud, as condições de trabalho fazem a oportunidade virar uma "senzala". "Eu gosto de falar assim, de senzala. Não tem preço o estresse que brota da ameaça constante. Se não cumprimos as metas, somos castigados e enviados, em uma semana, à grande cadeia que é Cuba."
"Somos a força escrava mais qualificada do mundo", diz ele.
Majfud faz parte do grupo que cobra indenização de Havana e Caracas por alegar ter trabalhado em esquema de "servidão por dívida", por supostamente ajudar o Estado cubano a pagar débitos com a Venezuela, especialmente da importação de petróleo.
O Estado cubano funciona, no caso venezuelano, como uma espécie de megaempresa de prestação de serviços médicos. Em 2009, Cuba diz ter batido recorde na "exportação de serviços" de saúde.
(FM) 

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1212201014.htm)

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