Apertem os cintos, o presidente calou!

Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi loquaz demais: chegou a confessar, candidamente (se é que se pode usar tal advérbio de modo no caso de um homem público), ter sido grande “a quantidade de coisas que eu falei e falava porque era modo falar, mas que não tinha substância para sustentar na hora em que você pega no concreto”. Antes da queda do Airbus da TAM, ele fez uma confissão ainda mais grave, pois ela reflete exatamente o comportamento do governo que chefia nos dantescos episódios do Caos Aéreo Nacional: “em determinados cargos a gente faz quando pode e, se não pode, deixa estar para ver como é que fica”. Em favor de Sua Excelência, pode-se dizer que poucos estadistas definiram de forma tão exata o lado mais frágil de seu perfil de administrador. Contra ele urge aduzir que esse estilo aplicado na crise dos aeroportos nacionais ajudou a matar cerca de 200 brasileiros.

A tragédia calou o presidente. Desde as 18h43 de terça-feira a Nação não tem sido submetida a suas metáforas esportivas, gafes ou piadas de gosto duvidoso. O chefe da Nação se recolheu a um mutismo que chega a ser eloqüente. Os jornais especulam sobre o silêncio presidencial, atribuindo-lhe uma tentativa de deixar o ônus da dor para ser administrado pelos oposicionistas José Serra, o governador tucano do Estado, e Gilberto Kassab, o prefeito democrata de São Paulo. Talvez seja uma aposta injusta numa insensibilidade excessiva para um líder político popular como ele. Mas não se pode deixar de estranhar o fato de Lula ter convocado um gabinete da crise sem um único especialista em aviação. Deu a impressão de que está preocupado com a repercussão política do acidente, ao convocar o ministro da Articulação, Walfrido Mares Guia, ou com o desgaste da imagem nos meios de Comunicação, por ter chamado o jornalista Franklin Martins. As presenças de Dilma Rousseff e Waldir Pires em nada tranqüilizam o cidadão preocupado com o fato de ainda não ter partido do governo nenhuma diretriz que o tranqüilize para a hipótese de se ver obrigado a tomar um avião nas próximas horas.

Mais intranqüilo ficará ainda o passageiro ao tomar conhecimento da escolha da Polícia Federal para investigar o acidente. Que outra razão poderá ter isso, a não ser puro marketing?

(Editorial do Jornal da Tarde, 20/07/07)

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