Uma explicação lógica de como a diminuição da diferença de renda entre ricos e pobres não significa a melhoria destes




A Desigualdade – o tal “gap” naquele famoso vídeo da Thatcher


Quem conheceu a Reaçonaria antes mesmo de ler este texto provavelmente assistiu no You Tube nosso teaser, divulgado em março. O vídeo reúne depoimentos marcantes de alguns dos grandes indivíduos da corrente direitista e trechos de uma fantástica palestra sobre “el entendimento de la dialética(chô diria Marx também)“, ministrada pelo Paulo Freire.
Em um dos trechos selecionados na edição, a então primeira-ministra Margaret Thatcher responde a uma pergunta de um parlamentar opositor, que disse que o gap (diferença) entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres só aumentou durante o governo dela. Com as mãos, ela apenas ilustrou a diferença alegada pelo opositor e a que ele realmente gostaria. Uma resposta aparentemente engraçada, cuja simplicidade na explicação de Thatcher esconde a seriedade do tema e do absurdo uso dele como ataque daquele opositor.
Ao falar sobre a diferença, e só dela, uma pessoa negligencia dados e fatores importantíssimos na análise do nível de riqueza de um povo. Qual é o valor máximo – ou mínimo – de renda para a pessoa ser considerada pobre? E qual é a renda média do mais pobre? E qual o número de pobres? E como calcular a evolução do número de pobres? Existem ainda valores mais específicos, como a renda necessária para manter as necessidades básicas de uma família, e a razão entre impostos pagos e a renda do mais pobre, exercício que sempre mostra quem mais sofre com impostos sobre consumo: o pobre. Tudo isso é deixado de lado, de propósito, pois a demagogia, o discurso “do bem”, a retórica da guerra de classes e os votos são mais importantes do que a análise concreta da situação.
Além disso, há o erro matemático em si. Usar a diferença como análise do nível de renda é um absurdo. Qualquer estudo básico mostra que ela é irrelevante na análise sobre quão pobre é um povo. Vamos escolher dois valores: 10 e 100. O menor representará a renda média do pobre. O maior será a renda média do rico. Se ambas as rendas dobrarem, os números passarão, respectivamente, para 20 e 200. Antes do aumento o gap era de 90. Após, ele passou para 180. Mas isso quer dizer que a população está mais pobre? Que apenas os ricos enriqueceram? Claro que não, a análise da diferença apenas diz que ela mesma aumentou. O dado mais importante, o ganho de 100% no valor da renda do pobre, é totalmente negligenciado. O que acontecerá as rendas caírem pela metade? Os valores ficarão, respeitando a ordem, em 5 e 50. O gap novo será de 45. Maravilha! O país está menos desigual, “vitória” do socialismo.
Como Thatcher afirma na continuação do vídeo: “so long as the gap is smaller, they rather have the poor poorer. You do not create wealth and opportunity this way”. Em tradução livre: “enquanto a diferença for menor, eles preferem que o pobre seja mais pobre. Você não cria riqueza e oportunidade desse modo”. Logo, a argumentação do opositor é resumida na tentativa de aumentar a igualdade dentro da miséria. No caso, por meio de políticas sem sentido, que vão do aumento do poder do Estado sobre a economia até a ampliação dos tributos. Lembrando, mais uma vez, as palavras de Thatcher, “Não existe dinheiro público. Existe apenas dinheiro do pagador de impostos”.
A pobreza e a miséria? Quem disse que o objetivo dessas correntes é combater esses problemas? O objetivo é apenas acabar com o tal gap.
Margaret Thatcher faleceu em 08/04/2013.
*Revisado por @sarubo

Texto copiado de: http://reaconaria.org/colunas/osmarjr/a-desigualdade-o-tal-gap-naquele-famoso-video-da-thatcher/

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