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Política e Investimentos: A Tragédia dos Fundos de Pensão


O loteamento político de vários órgãos públicos é algo que tem chamado a atenção, em especial nos últimos 15 anos. Mas o que se faz com a poupança de milhões de trabalhadores em nome de conveniências políticas é algo que merece atrair muita mais atenção dos órgãos de controle e do país como um todo.

20-05-2015

Por Terraço Econômico

Você no Terraço | Por Gerson Caner*

Os fundos de pensão públicos são instituições criadas para cuidar da aposentadoria de servidores de estatais. Os maiores deles são o Petros, da Petrobrás, o Postalis, dos Correios, o Funcef , da Caixa Econômica Federal e o Previ, do Banco do Brasil. Para se ter uma ideia da importância dessas instituições, elas reúnem mais de 2,5 milhões de servidores na ativa e cerca de 550 mil aposentados. São mais de 3 milhões de trabalhadores, gente que reservou parte dos salários ao longo de décadas para garantir um futuro tranquilo e que agora sofre as consequências de decisões equivocadas e estranhas em negócios pra lá de heterodoxos.

Um estudo feito pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de PrevidênciaComplementar (Abrapp) [1], com base nos balanços de 2014, mostra que os 86 fundos com patrocínio de empresas estatais tiveram no cômputo geral o maior déficit de sua história, um rombo de 9 bilhões de reais. Os resultados recentes foram mais que desastrosos em vários casos. Na Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, de um ano para outro o déficit passou de 3,1 para 5,5 bilhões de reais. Na Petros, dos empregados da Petrobrás, o déficit foi de 2,3 bilhões para 6,2 bilhões de reais.

Pesa no resultado a coleção de péssimos investimentos dessas instituições em negócios como a Sete Brasil, locadora de navios e plataformas de petróleo, de futuro mais do que incerto depois de se complicar nas investigações da Operação Lava-Jato. Previ, Petros e Funcef detêm juntas, 37,5% da empresa. Já o Postalis acumulou rombo de R$ 5,6 bilhões. Em abril, os poupadores foram avisados de que teriam que pagar uma contribuição extra superior a 25% do salário para tapar o buraco.

O que torna casos como o do Postalis mais difícil de resolver é que, a exemplo dos demais fundos citados, ele reúne o que de pior há na administração pública do Brasil: a indicação política aliada a interesses que não necessariamente são os mesmos dos incautos poupadores. O Postalis é controlado por dirigentes indicados por políticos do PT e do PMDB.

O Petros, que tem (ainda) mais de R$ 66 bilhões de patrimônio, teve seus e-mails interceptados pela Policia Federal na Operação Lava-Jato [2]. Eles indicam que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari, influía diretamente na administração do gigantesco volume de recursos. Vaccari intermediou uma reunião entre a Petros e representantes de um fundo de investimentos comandado pelo doleiro Alberto Youssef. Os principais cargos do fundo são historicamente divididos entre petistas da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Uma análise um pouco mais rigorosa dos investimentos feitos pelos fundos de pensão das estatais ajuda rapidamente a compreender o tamanho dos prejuízos. O grupo Galileo estava praticamente falido quando o Postalis comprou 75 milhões de reais em debêntures. A Petros “investiu” nos mesmos ativos 25 milhões de reais, além de ter aplicado 300 milhões de reais na Lupatech, fornecedora de equipamentos para a exploração de petróleo, e que - mero detalhe - se encontra em recuperação judicial [3]. Petros e Postalis também perderamdinheiro com a quebra do banco BVA. Uma auditoria do Banco Central apontou indícios de conluio entre dirigentes do banco e dos fundos de pensão [4]. Como se não bastasse, o Postalis comprou 130 milhões de reais em ações do Grupo EBX, do empresário Eike Batista. Desnecessário mencionar o resultado desse “investimento”.

O loteamento político de vários órgãos públicos é algo que tem chamado a atenção, em especial nos últimos 15 anos. Mas o que se faz com a poupança de milhões de trabalhadores em nome de conveniências políticas é algo que merece atrair muita mais atenção dos órgãos de controle e do país como um todo.

Gerson Caner
Economista pela FEA/USP, MBA em Finanças, 20 anos de experiência no mercado financeiro, atuou como diretor de empresas de consultoria (Ernst Young) e é palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais, além de Gestor de Investimentos

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