Motivos para preocupação

Do site Ucho.info:

O grande problema da privatização dos três aeroportos não está na decisão do PT de rasgar o discurso do passado, mas, sim, na composição dos consórcios que venceram as licitações. A desconhecida empresa africana que arrematou o aeroporto de Guarulhos terá sob sua administração nada menos do que 30% dos passageiros e 57% da carga do transporte aéreo nacional. Fora isso, a tal empresa africana, cujas credenciais não são tão ortodoxas, faz parceria no consórcio com a Invepar, criada em 2000 e que tem como sócios três fundos de pensão de estatais (Funcef, Petros e Previ), além da OAS, empreiteira que flanou nas alturas durante a existência do finado senador baiano Antônio Carlos Magalhães. Para bom entendedor significa que o PT está nos bastidores da nebulosa operação.
O governo da presidente Dilma nem sonhava em conseguir oferta maior do que R$ 6 bilhões por Guarulhos. Quando o leilão chegou a incríveis R$ 12 bi, um executivo de uma das mais experientes administradoras de aeroprotos do planeta garantiu que a conta não fecha. Mesmo assim, o valor do leilão de Guarulhos de R$ 16,2 bilhões, além de R$ 4,6 bilhões em reformas, estipuladas em contrato, para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A conta não fecha por um motivo muito simples. A receita total do aeroporto de Guarulhos calculada pelo Planalto, para os vinte anos anos da concessão, é de R$ 17 bilhões, apenas 5% a mais do que os fundos do PT pagaram somente pela outorga. As prestações para a autorgam serão de R$ 800 milhões por ano, enquanto o faturamento anual do aeroporto de Guarulhos é de R$ 500 milhões.
O grupo argentino Corporación América, que arrematou o aeroporto de Brasília, é conhecido na terra do tango por suas promessas mirabolantes não cumpridas. No Brasil, para levar o aeroporto da capital dos brasileiros, o Corporación América deu lance de R$ 4,5 bilhões pela outorga e assumiu o compromisso de investir outros R$ 2,8 bilhões. O mesmo grupo, que na Argentina administra aeroportos regionais, há anos vem enrolando a Casa Rosada, sede do Executivo local, a quem deve US$ 104 milhões.
Nessa estranha barafunda em que se transformou a primeira grande privatização da era petista, o lance menos polêmico foi o relacionado ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, ofertado pelo endividado Grupo Triunfo, que tem como parceiros um punhado de franceses. O grupo, que pagou ágio de 159%, é o mesmo que em 2008 venceu a disputa pelas concessões das rodovias paulistas Ayrton Senna e Carvalho Pinto. Tempos depois, o governo paulista retomou as rodovias porque o consórcio não conseguiu cumprir o que prometera.

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