Versos atualíssimos
Em terra de cego, emudeça.
Tampe o ouvido, esconda o tato.
Deixe que tudo pereça.
Recuse espelho, largue o fato.
Passe cinzas na cabeça.
Vende os olhos, como il matto.
Em terra de cego, ceda
à passagem da manada.
Enverede por veredas,
busque o pó, aceite o nada.
Em terra de cego, fuja
de chegar perto da cruz.
Lave as mãos e coma uvas.
Vá atrás do que conduz.
Em terra de cego, poupe.
Mescle-se à mediocridade.
Vão achar que nunca houve
tão bom homem na cidade.
Mas, se você for teimoso,
insistir em enxergar,
cego arrancará o olho
que você não quis fechar.
Afinal, a terra é dele.
E ele, que não vislumbra,
morre de medo de ser visto
por quem vê fora da tumba.
(copiado do Blog Arrastão, de Janaína Leite)
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