Guilherme Fiúza

Guilherme Fiúza é um excelente jornalista. Leiam o artigo abaixo de sua autoria, publicado no site No Mínimo. Ele está coberto de razão... Nós é que não enxergamos.

Bêbados são os outros

Os brasileiros continuam embriagados por esse sonho de virar potência etílica. O etanol virou passaporte para o topo do mundo. É claro que isso não vai passar de um soluço.

Como se sabe, essa história de potência alcoólica nasceu num papo de botequim entre Bush e Lula (nada a ver com os hábitos pessoais dos dois). Bush precisava usar Lula para uma lavagem de reputação na América Latina. (Para o público externo, o mensalão saiu na urina e Lula continua sendo o bibelô da miséria.)

Mas a vida é dura. Chega agora a notícia de que o preço do etanol subiu nada menos que 5% em abril, ou mais de dez vezes a inflação. No Rio de Janeiro, o produto que vai fazer o mundo se render ao Brasil já está, quem diria, saindo mais caro do que a gasolina (considerando-se a performance dos dois combustíveis).

Tontos de esperança, os brasileiros enxergam a vanguarda do desenvolvimento nacional na classe dos usineiros de cana-de-açúcar. É dessa turma boa, afilhada do Collor, que nos anos 80 deixou mais da metade da frota nacional em pane seca para inflar os preços, que vem a justificativa do aumento dos preços do etanol: é a entressafra.

Entenderam? O combustível limpo que vai transformar o Brasil em potência tem um regime de preços tão estável quanto o de um bangalô no litoral alagoano: tudo depende da alta temporada, da baixa temporada e da direção do vento.

Se a alternativa barata do futuro de repente fica mais cara do que a gasolina, logo vem a explicação lá do engenho: a cana demorou a crescer. A entressafra é, essencialmente, culpa da natureza – e não há nada que os usineiros possam fazer a esse respeito.

Assim é produzido o etanol, vanguarda desenvolvimentista do Brasil grande. E ainda dizem que os russos é que são os bêbados.

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