O Brasil é ou não um país de merda?

E a novela do Satélite Brasileiro continua…

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A regra é clara: nada dá certo nesse país. A nossa vocação pro fracasso é impressionante. Lembre-se, é o país onde tivemos 500 anos pra fazer a réplica da caravela do Cabral, e conseguimos atrasar e perder a data. Em termos de programa espacial, estamos 50 anos atrasados em relação ao resto do mundo, conseguimos nos enrolar mesmo com nossos atrasos, como o satélite CBERS que subiu mais de um ano depois do previsto e já em órbita se tocaram que não haviam licitado o software pra decodificar as imagens dele.
Agora com o SGDC a brincadeira ficou séria, nos superamos em nossa incompetência.
O SGDC, antes chamado de SGDC-1 mas acho que a ficha caiu, é um satélite de comunicações geoestacionário construído pela Thales Alenia Space, um projeto que custou R$ 2,78 bilhões. Muita grana, mas espaço é assim mesmo.
É um projeto que vem sendo discutido faz tempo, tendo sido oficializado (finalmente) pela Dilma em 2012. Depois de muito atraso, e até com greve na base de lançamento, o bicho subiu. Aí alguém descobriu um pequeno problema: não havia antenas em terra pra receber o sinal do satélite.
O satélite subiu 22 de março, a licitação pra decidir quem ia construir as antenas saiu dia 10 de março.
Piora? Ah, piora.
O SGDC deveria em teoria ter 30% dos recursos reservados para as forças armadas, o resto seria alugado pela Telebrás para empresas que em troca implantariam terminais no interior desse brasilzão sem porteira, implementando o Programa Nacional de Banda Larga e conectando comunidades isoladas.
Problema: ninguém se interessou. O preço não era atraente, as instalações nessas comunidades seriam deficitárias e a oferta de links de satélite só vem crescendo, bem mais do que a demanda.
A Telebras desistiu da licitação depois de 8 meses sem ninguém aparecer, mudaram a estratégia e entraram no modo “aceitamos qualquer oferta”. Apareceu a americana Viasat, que deveria começar a operar em abril de 2018.
Imediatamente a turma da histeria começou a gritar dizendo que o Temer havia “privatizado” o satélite brasileiro, o vendido para ianques imperialistas americanos do norte, blá blá blá. Deputados reclamaram, e enquanto isso a Telebras acumula prejuízo de R$ 100 milhões com o satélite. R$ 800 mil por dia, por causa da subutilização dos recursos.
A Viasat havia se comprometido a instalar pelo menos 500 pontos de internet até o final de abril. A meta era 8.000 em 2018 e 15 mil até março de 2019. No momento o número de pontos instalados é quatro. 4. Four.
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A culpa não é deles, estão proibidos pela Justiça de implantar novos pontos e deverão retirar os 4 já instalados. Ouviram, criancinhas da escola municipal de Paracaima, RR? Sem internet pra vocês. Not yours.
A decisão faz parte de uma ação movida por um provedor de internet de Manaus, o Via Direta. Eles dizem que estavam em negociação com a Telebras quando foram preteridos pela Viasat, e já haviam investido R$ 15 milhões em equipamentos.
O provedor exige acesso a 15% da capacidade do satélite.
A ação fala inclusive de perda de soberania nacional, o tipo de discurso que eriça os pelos de todo criptonacionalista brasileiro, e provavelmente por causa disso a briga judicial passou por várias instâncias, com a Telebras perdendo em todas e agora chegou no STF e agora foi pedida a opinião da Procuradoria Geral da República.
Não há um final no horizonte pra esse rebuceteio, a Telebras vai entubar o prejuízo até onde der, mas o Ministério da Defesa sozinho não tem como bancar os custos de manutenção do satélite. Nossa “soberania” vai escorrer pelo ralo e teremos um lindo satélite geoestacionário semi-novo abandonado em órbita, um monumento a nossa Vocação para o Fracasso, para sempre sobre nossas cabeças.

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