O Brasil precisa superar a fase lulista. Editorial do Estadão 21/12/17
O Estado de S.Paulo
Se tivesse um mínimo de pudor, Lula
da Silva já teria há muito tempo se retirado da vida pública. Sendo,
indubitavelmente, o maior responsável pela violenta crise moral, política e
econômica que atinge o País desde a chegada do PT ao poder, em 2003, o chefão
petista deveria ter ele próprio abreviado o sofrimento ao qual vem submetendo
os brasileiros todo esse tempo, renunciando à pretensão de se tornar novamente
presidente da República. Seria um alívio para o País, pois restituiria
racionalidade ao debate das grandes questões nacionais, hoje submetidas à
incessante mistificação lulopetista.
Mas Lula jamais trairia sua natureza
nem revelaria agora uma grandeza que nunca teve, razão pela qual ele está, como
sempre, em plena campanha à Presidência. E o mais espantoso é que, mesmo tendo
feito tudo o que fez, ele aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. Ou
seja, uma parte considerável do eleitorado parece não se importar com o fato de
Lula e seu partido terem protagonizado o mensalão, o petrolão e a destruição da
economia do País; ao contrário, aceita como verdadeiro o discurso mendaz do
demiurgo petista segundo o qual o Brasil era uma maravilha no tempo em que o PT
estava no poder.
Por conta disso, muitos apostam que o
anunciado julgamento do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região,
no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre, será o grande evento capaz de livrar a
sociedade brasileira do pesadelo lulopetista. E esse clima de confronto
interessa muito aos petistas. O ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de 30
anos de prisão por corrupção e que aguarda julgamento de recurso em liberdade
vigiada, convocou a tigrada: “A hora é de ação, não de palavras. De transformar
a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o
combate. Todos a Porto Alegre no dia 24, o dia da revolta”.
É inacreditável que o País dependa da
decisão de três juízes, sobre um caso de corrupção envolvendo um apartamento no
Guarujá, para que Lula, enfim, seja alijado de uma eleição da qual ele não tem
condições morais de participar. Essa situação expõe claramente o quanto ainda
falta para que se possa dizer que o País amadureceu de fato. Em nações com
democracias sólidas e educação cívica razoável, Lula e seus associados já
estariam no ostracismo, não necessariamente como desdobramento de alguma ação
judicial, e sim como consequência da repulsa do eleitorado.
Afinal, foi sob sua influência direta
que se construiu uma ampla rede de corrupção no Congresso, à base de pagamentos
mensais a deputados, para favorecer seu governo; foi durante sua Presidência
que a principal empresa estatal do País, a Petrobrás, começou a ser destroçada
pelo PT e outros partidos integrantes da quadrilha; foi em seu governo que o
Brasil, ignorando os interesses nacionais, fechou-se a acordos comerciais com
as maiores potências do planeta, preferindo fazer negócios com países
periféricos e populistas, alinhados ideologicamente ao PT; e foi de Lula a
ideia de colocar na cadeira presidencial a neófita brizolista Dilma Rousseff,
cujo nome provoca calafrios em todos os milhões de brasileiros que sofreram as
consequências de suas desastrosas decisões econômicas.
Por esse conjunto da obra, portanto,
nenhum eleitor deveria sequer cogitar a hipótese de votar novamente em Lula.
Mas ele não só tem muitos eleitores, como lidera as pesquisas e, o que é pior,
conduz os debates para onde quer. No momento, por exemplo, Lula está em intensa
campanha para desmoralizar as reformas defendidas pelo governo de Michel Temer,
ajudando a mobilizar uma parte significativa da opinião pública contra essas
urgentes medidas. Lula sabe que as reformas são fundamentais, mas
responsabilidade, afinal, nunca foi seu forte.
Infelizmente, como se vê, o Brasil
ainda não conseguiu superar Lula. E talvez não tenha conseguido porque o
petista representa o País do assistencialismo populista, das regalias às
corporações e do capitalismo sem risco. Ou seja, um País em que uma parte
considerável de seu povo e de sua elite sonha em prosperar sem fazer força.
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