Considerações oportunas...



Mais de 2000 anos depois, o Pai Nosso continua incomodando.

Jean Wyllys ficou aparentemente muito incomodado porque parlamentares decidiram rezar um Pai Nosso na Câmara dos Deputados, ontem. O ato de rezar a “oração que Jesus nos ensinou” indignou tanto o deputado e ex-BBB, que os responsáveis pelo infame ato mereceram a alcunha de fascistas.
Tudo bem. Jean Wyllys não assusta. Ao longo de mais de dois mil anos, gente com maior relevância e de mais profundidade intelectual também apontou o dedo para o cristianismo e proferiu os mais diversos impropérios contra os seguidores dessa doutrina. O fim da Santa Madre, inclusive, já foi previsto muitas vezes na história, mas ela segue aí, firme e forte.
Não, definitivamente esse tipo de imbecilidade não assusta a Igreja ou o cristianismo. Mas não deixa de surpreender o grau de ignorância de quem, em uma mesma frase, relaciona o ato de rezar o Pai Nosso ao fascismo. Revela não apenas ignorância acerca do que significa a oração universal, mas, também, sobre o que é o fascismo em si mesmo.
Jean Wyllys, como tantos outros que se indignaram com quem rezou na Câmara ontem, fala de um suposto desrespeito ao estado laico. E eis aí mais ignorância sendo revelada, afinal a laicidade do estado só teria sido ameaçada se a Casa do Povo tivesse obrigado os parlamentares a fazer alguma oração. Confunde-se, ainda, estado laico com estado ateu, numa ligeireza intelectual de dar pena.
Ora, não é a Câmara uma reunião de representantes da sociedade (para o bem e para o mal)? E não há, na sociedade, cristãos que rezam o Pai Nosso? Por que no Parlamento (justo no Parlamento!) não lhes deveria ser dado o direito de externar a própria fé? Fazer uma oração, por óbvio, é diferente de transformar o país numa república religiosa.
Eu me pergunto se Jean Wyllys e os demais indignados diriam alguma coisa caso parlamentares adeptos do candomblé realizassem alguma manifestação na Câmara. Ou, ainda, se veríamos tanta revolta caso deputados muçulmanos recitassem trechos do Corão lá. Presumo que Jean aplaudiria a diversidade e a liberdade em tal caso, afinal ele mesmo propôs que as escolas brasileiras passassem a ensinar nuances da religião muçulmana.
Não deixa de ser curioso analisar os abismos da psique humana: o mesmo Jean Wyllys que parece admirar a religião professada no Irã – onde homossexuais são queimados em praça pública -, parece sentir raiva de uma manifestação cristã. Justo o cristianismo que, goste-se ou não, com todos os percalços que experimentou ao longo de sua história milenar, criou os alicerces morais sobre os quais se ergueu a civilização ocidental.
Não se trata, aqui, de defender o mérito da tal reza feita na Câmara. Por que resolveram rezar o Pai Nosso? Pouco importa. Se invocaram o santo nome de Deus em vão? Bom, se o fizeram vão prestar contas a ele, no juízo final. O que quero é apenas dizer que indivíduos cristãos têm, sim, o direito de externar a própria fé, principalmente num lugar chamado de Casa do Povo. Afinal, a maioria do povo brasileiro, gostem ou não os Jeans Wyllys da vida, é cristã.
Por que ouvir que “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” ofende tanto, mas ouvir os versos da internacional socialista é aceitável? De um lado, uma ode ao amor, ao perdão e à penitência, nas palavras que Jesus nos ensinou. Do outro, o hino de um regime que deixou ao mundo como legado uma pilha de mais de cem milhões de mortos. Que onde quer que tenha sido implantado só conseguiu produzir morte, miséria e terror. Que inversão de valores morais tão hedionda é essa, que leva alguns expoentes da esquerda brasileira a chamar de fascista quem repete as palavras do Pai Nosso, mas aplaude o hino que louva uma das mais nojentas experiências fascistas que já existiu na face da Terra?
O debate político, infelizmente, empobreceu muito ao longo dos anos. Na internet, então, fazem eco à indignação de Jean Wyllys dizendo que ele “lacrou”, ou aplaudindo-o ao falar que “fez a Igreja espumar de raiva”. Bobagem… Não há que se ter raiva do Jean, porque Jesus nos ensinou a misericórdia. Afinal, Deus, em sua infinita bondade, certamente ama também os imbecis. Ou não haveria tantos.

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