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Mostrando postagens de junho, 2021

Artigo de Paulo Delgado no Estadão de 09/06/2021

  Reparador de brechas  PAULO DELGADO ESTADÃO - 09/06 FHC, um intelectual que presenteia o povo com mais do que poderia receber por gratidão Político e intelectual missionário, avesso a dar sermão, exerceu o poder sem falsos pretextos. Em país de política inóspita e coalizões frágeis, elites apáticas, demagogias, combinou liberalismo econômico com intervenção social, sem provocar frustração. Numa América Latina em que os intelectuais emigram e muitos reagem às críticas de forma rígida, Fernando Henrique Cardoso é exemplo admirável de quem não deixou passar a hora nem esticou provocação. Cidadão do mundo, selou compromisso com o Brasil. Com elevada capacidade de ligar fatos, conectar análises e dono de jovialidade compreensiva e receptiva a novas explanações, sua trajetória prova que é possível associar eficácia e grandeza – e felicidade – à política como ofício. Carioca, compreendeu o mar e navegou por suas ondas. Executou reforma ambiciosa da moeda, reuniu a mais brilhante equipe de e

Editorial do Estadão, 25/06/2021

  Putrefação moral A luz do sol acelera a putrefação do governo. É preciso desenterrar o que a truculência bolsonarista quer esconder Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 25 de junho de 2021 | 03h00 O governo de Jair Bolsonaro está se decompondo. E o mau cheiro começa a ficar insuportável. Na quarta-feira, mesmo dia em que o escândalo da estranha negociação para a compra da vacina indiana Covaxin ganhou componentes explosivos, anunciou-se a saída do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cujo passivo judicial é quase tão vistoso quanto os prejuízos ambientais e de imagem que ele causou ao País. Espíritos céticos dirão que não se trata de simples coincidência. Sempre que irrompe um novo escândalo com potencial para danificar a fantasia de campeão anticorrupção que Bolsonaro vestiu desde a campanha eleitoral, o presidente se livra de algum dos seus ministros ditos “ideológicos” – isto é, ventríloquos do bolsonarismo mais estridentes – para tentar desviar a atenção. Foi o que

Editorial do Estadão, 23/06/2021

  O presidente nervoso Jair Bolsonaro pode continuar tentando intimidar jornalistas, mas em algum momento terá que responder por seus atos Notas&Informações, O Estado de S.Paulo 23 de junho de 2021 | 03h00 O presidente Jair Bolsonaro mais uma vez agrediu um jornalista que estava no exercício de sua profissão. Bolsonaro estava em um evento militar em Guaratinguetá (SP) quando foi questionado por uma repórter de uma afiliada da TV Globo sobre o fato de ter sido multado em São Paulo por não ter usado máscara numa manifestação. Era uma pergunta pertinente, considerando-se o fato de que o presidente é o chefe de Estado e, como tal, deveria ser o primeiro a dar o exemplo, adotando a proteção facial, comprovadamente eficiente para reduzir o risco de contaminação, num país que poucos dias antes atingira a terrível marca de 500 mil mortos pela pandemia de covid-19. A pergunta enfureceu Bolsonaro. “Olha, eu chego como eu quiser, onde eu quiser, está certo? Eu cuido da minha vida. Se você

Editorial do Estadão, 22/06/2021

500 mil mortos Bolsonaro não se sentiu obrigado a dirigir nenhuma palavra de conforto e pesar quando a terrível marca de 500 mil mortos foi atingida. É como se as vítimas não fossem dignas de luto Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 22 de junho de 2021 | 03h00 Há algo de profundamente perturbador quando parte da sociedade, estimulada pela desumanidade do governo de Jair Bolsonaro, considera natural a morte de meio milhão de conterrâneos na pandemia de covid-19. O choque é ainda maior quando se constata que muitos desses brasileiros mortos poderiam ter sobrevivido, não fosse a inépcia criminosa do governo, resultado direto do comportamento irresponsável do presidente. Bolsonaro não se sentiu obrigado a dirigir nenhuma palavra de conforto e pesar quando a terrível marca de 500 mil mortos foi atingida. É como se essas vítimas não fossem dignas de luto. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi didático ao explicar por que não se deveria lamentar a morte de 500 mil brasileiros

Coluna de Carlos Andreazza, O Globo, 22/06/2021

  ELETROBRAS Liberalismo pirata privatiza Por  Carlos Andreazza 22/06/2021 06:00 Abra-se este artigo com um assentamento: escreverá aqui — contra a pirataria apregoada como desestatização — alguém a favor da capitalização da Eletrobras. A favor de que seja diluída, sob oferta ao mercado, a participação da União na empresa até que perca o lote majoritário. A favor; porque impossível ao Estado dar à companhia as condições de modernização mínimas necessárias para a provisão de segurança energética ao povo. A favor, portanto. Mas não a qualquer custo. E, certamente, não para que usineiros sem gás — e senadores sem gasodutos e vergonha — ergam suas termelétricas; e desde já com a segurança não competitiva de muitos mil megawatts contratados, depois de muitos milhões despejados em obras para deleites paroquiais. Não para que sejam contemplados com subsídios infinitos os que fogem de concorrer livremente e que sempre têm parlamentares para lhes financiar — com dinheiro alheio — o capitalismo

Coluna de Miriam Leitão em O Globo, 22/06/2021

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  COLUNA NO GLOBO Reformas para o projeto autoritário Por  Míriam Leitão 22/06/2021 04:30 bolsonaro_tropas | Infoglobo Hoje, o presidente pode nomear seis mil pessoas que não fazem parte do setor público para os cargos em comissão. Com a reforma administrativa, poderá nomear 90 mil. Pessoas estranhas ao serviço público poderão exercer funções estratégicas. O governo poderá pagar o salário de funcionários de empresa privada. Tudo isso para economizar recursos? Não. No próprio texto da exposição de motivos está dito que não haverá impacto fiscal, orçamentário ou financeiro. A reforma administrativa é mais uma das propostas do governo Bolsonaro que serve a seu projeto de poder que, todos sabemos, é autoritário. O mercado financeiro espera “as reformas” como um fetiche, afirmando que com elas o país retomará o crescimento e vai estabilizar a dívida pública. Balela. A MP da venda da Eletrobras virou um monstrengo, que custará caro ao consumidor por vários anos, mas tanto para o ministro da

Editorial do Estadão, 16/06/2021

  Bolsonaro, aprendiz de Lula Como já ensinava o presidente Lula da Silva em 2006, “um homem público não precisa de época de eleição para fazer campanha” Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 16 de junho de 2021 | 03h00 O presidente Jair Bolsonaro ainda não tem partido político. Nem precisa: usa o Estado como sua máquina partidária e os recursos públicos como verba de campanha. Sempre que resolve passear e fazer comício, o que tem acontecido com muita frequência, o presidente obriga o Estado a se desdobrar, a um custo em geral milionário, para lhe garantir segurança e bem-estar. Todo chefe de governo, quando se desloca, requer esse tratamento, e é justo que seja assim: afinal, o presidente é o principal líder político e administrativo do País. Mas supõe-se que essa estrutura exista basicamente para dar conforto e proteção ao presidente sobretudo quando está a trabalho, como esperam os contribuintes de cujos impostos sai o dinheiro para bancá-la. Vá lá que o chefe de governo tamb

Artigo de Ana Carla Abrão, Estadão, 15/06/2021

  Muito além do Plano Real, avanços institucionais do passado ajudam o Brasil até hoje Nas décadas anteriores, as dificuldades foram contrabalançadas por uma agenda de ações coordenadas por equipes lideradas, e não desautorizadas Ana Carla Abrão*, O Estado de S.Paulo 15 de junho de 2021 | 05h00 O Brasil já foi um exemplo. Conseguiu feitos que exigiram e contaram com a adesão da sociedade em torno de objetivos e metas. Muito além do Plano Real , que marcou uma mudança estrutural na economia brasileira, também foram grandes os avanços institucionais. Medidas como o fim da conta movimento entre Banco do Brasil e Tesouro Nacional ; o estabelecimento do tripé macroeconômico – baseado no sistema de metas para inflação, na Lei de Responsabilidade Fiscal e na transição para o câmbio flutuante –; ou as grandes privatizações dos anos 90. Elas colocaram de pé instituições econômicas que, embora a duras penas, sobrevivem e mantêm o País resistente ao abismo. No campo social, a universalização d

Editorial do Estadão, 11/06/2021

  O espírito do bolsonarismo O deputado Ricardo Barros está muito à vontade para dizer que cabe ao Executivo escolher as decisões judiciais que cumprirá Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 11 de junho de 2021 | 03h00 O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, disse que “vai chegar uma hora” em que as decisões judiciais não serão cumpridas pelo Executivo. “O Judiciário vai ter que se acomodar nesse avançar nas prerrogativas do Executivo e do Legislativo. Vai chegar uma hora em que vamos dizer que simplesmente não vamos cumprir mais. Vocês cuidam dos seus que eu cuido do nosso, não dá mais simplesmente para cumprir as decisões porque elas não têm nenhum fundamento, nenhum sentido, nenhum senso prático”, declarou o parlamentar em evento promovido pelo jornal Correio Braziliense e pela Confederação Nacional da Indústria. A afirmação de Ricardo Barros não é isolada. O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, já ameaçou não cumprir decisões do Supremo Tribunal Federal

Artigo de Fernando Gabeira, Estadão, 11/06/2021

  Golpe em doses homeopáticas Os fundamentos de um governo autoritário já estão sendo estabelecidos no País Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo 11 de junho de 2021 | 03h00 Quase todos os o recentes livros que tratam da ameaça à democracia nos últimos anos ressaltam que o golpe já não funciona como antigamente. Não mais pronunciamentos militares e velhos tanques desfilando pelas ruas empoeiradas. Os autores desses livros dizem que a democracia é golpeada por dentro e as instituições vão tombando progressivamente, de forma que quando as pessoas se dão conta o regime autoritário já se instalou no país. Algo parecido está acontecendo no Brasil. Não me canso de denunciá-lo, correndo o risco de parecer exagerado. A decisão do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello, que subiu num palanque em manifestação pró-Bolsonaro, é um exemplo dramático desse processo. As Forças Armadas foram seduzidas pelo governo e inundaram os cargos públicos federais. Agora, o Exército rasga seu estatuto

Artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, FSP, 11/06/2021

  De onde vem o fascínio por Bolsonaro? Como o deus Shiva, adeptos acreditam que é preciso destruir para renovar 10.jun.2021 às 23h15 Rogério Cezar de Cerqueira Leite Físico, professor emérito da Unicamp, membro do Conselho Editorial da Folha e presidente de honra do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) De Sun Tzu a Carl von Clausewitz , trata-se de um consenso: o primeiro passo para elaborar uma estratégia de guerra é conhecer o inimigo, suas fraquezas, suas fortitudes. A oposição parece acreditar que Jair Bolsonaro já foi derrotado devido ao comportamento desumano durante a pandemia . Pois bem: os resultados das pesquisas mostram, muito pelo contrário, que ele mantém cerca de 25% dos eleitores, apesar do deplorável comportamento. O presidente tem, portanto, um eleitorado raiz, visceral, que nenhum candidato à Presidência antes demonstrou ter. Com o auxílio emergencial , vimos no começo da pandemia, ganhou entre 15% e 20% de apoio popular. E ninguém duvida que

Artigo de Denis Lerrer Rosenfield, Estadão, 07/06/2021

  A ema, o policial e o intendente Eles simbolizam o governo Bolsonaro: a política anticientífica, o arbítrio e a anarquia Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo 07 de junho de 2021 | 03h00 A ema, o policial e o intendente são três símbolos que talvez melhor caracterizem o governo Bolsonaro: a política anticientífica, o arbítrio e a anarquia. A ema foi sábia. Ao ver o presidente com a caixinha de cloroquina, dele fugiu, mostrando ter melhor discernimento do que boa parte dos brasileiros, que aderem a poções mágicas. Deve ter ela pensado: será que perdeu o juízo? Perguntou-se, mesmo, pelo tipo de humano que ele representa ao negar a ciência, pregar a morte e impor a desordem sanitária. No reino dito animal, isso não seria possível, quanto mais não seja, porque sempre procuram instintivamente a própria sobrevivência. Ora, se os humanos foram agraciados com a razão, eles obtiveram o uso da liberdade de escolha para, em princípio, melhor organizarem suas relações, progredindo no conh

Editorial do Estadão, 08/06/2021

  Chavismo caboclo A escalada da crise protagonizada por Jair Bolsonaro com os militares sugere que o País corre o sério risco de assemelhar-se à Venezuela chavista Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 08 de junho de 2021 | 03h00 A escalada da crise protagonizada pelo presidente Jair Bolsonaro com os militares sugere que o País corre o sério risco de sofrer forte degradação democrática, a ponto de assemelhar-se à Venezuela chavista. “Os militares daqui estão enfrentando o que os da Venezuela enfrentaram no início do período chavista”, comparou Raul Jungmann, que foi ministro da Defesa no governo de Michel Temer. Em entrevista ao Estado, Jungmann disse que “Bolsonaro persegue o modelo de Chávez”, isto é, quer transformar as Forças Armadas em braço do bolsonarismo. “Os militares, aqui como lá, guardadas as devidas proporções, evitam o confronto direto com o comandante para não ferir a Constituição, mas o dilema é que assim correm o risco de ver a Constituição destruída junto com